• 1 de Dezembro, 2024

A dióba o que te faz…!

 A dióba o que te faz…!

Por: Catarina Fortunato*

Vejo algumas pessoas, falando da fome como se fosse algo opcional, chegando mesmo a alegar que
tiveram de comer pão com manteiga, arroz com açúcar…hilário né?
Passaram fome ou vontade de comer?
A dióba (fome) é agressiva, ela não faz distinção entre o light ou o full, não escolhe só arranca. A dióba quando te ataca, não tem como apertar o cinto e nem reparar se é pão com manteiga, seco ou com óleo.
A relatividade da fome, centra-se nos bolsos de quem não tem poder de compra. A dióba sempre existiu
e matou, mas quem passou por ela de verdade nem sequer toca no assunto. Dormir a fome é o nível hard da tortura, solidários, os intestinos cantam, e as ‘lombrigas” desesperadas largam a ociosidade.
Você bem dióbado até vês o Diabo a assar sardinhas.
Não importava se o jantar era lokango (milho torrado) , o feijão duro, ou aquela fuba do Brasil que mais
parecia uma cola. O importante era matar a fome, que na manhã seguinte ressuscitava mais forte em
conivência com a ingratidão da barriga.
A fubá de milho amarela e as cabuenhas, sempre existiram, mas eram consumidas apenas de modo
opcional, tendo mesmo alguns luandinos, no tempo das vacas gordas, afirmado que não comiam fubá
de milho amarela nem cabuenha …
– “É comida dos Bailundos”, diziam.
Mas quando a dioba  entrou, a palavra de ordem era: – O que não mata engorda!!!
Muita gente, hoje senhores abastados viveram na primeira pessoa, conjugado em todas formas as faces
da fome desde a papa de fuba de milho amarela com sal ao arroz de óleo de Palma, manga verde,
mamão verde fervido com sal. O importante era pôr sal na boca e depois um litro de agua.
Lamber no pilão de gindungo, chupar vinagre, também arrancava a fome, diziam os mais bravos
sobreviventes.
Os tempos evoluíram e a fome também. A lambula vestiu-se de super herói, mas não consegue lutar
contra o amor de uma mãe que não tendo nada para dar aos filhos, deu soro de reidratação oral aos
filhos e contou-lhes uma história para dormir. Nem aquela mãe que recolhia cabeça de baiacus para
saciar a fome dos seus meninos, nem os homens que garimpam desesperados os contentores de lixo,
com os olhos anestesiados e os organismos imunizados pela pobreza, nos lábios secos o louvor do
conformismo:
OBRIGADA SENHOR… ALELUIA…

Escritora e cronista

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