Esta semana, Catarina Fortunato “Mãe dos Setinhos”, trás em reflexão a figura que chamou e bem de DIKANZISTA MOR. Domingos António Miguel da Silva “Kituxe”, morreu esta sexta-feira.
Catarina Fortunato “Mãe dos Setinhos”*
Nasceu e cresceu nas artérias do ritmo, seu amor pela dikanza é daqueles digno de uma projeção cinematográfica … Amor a primeira vista, como exprimia o brilho no seu olhar. Sorria ansioso, quando olhava para sua bela e amada dikanza tateada pelo mestre que o fazia com destreza paixão e emoção…
Submeteu- se aquela amor, com devoção… A dikanza virou sua razão. Fez-se íntimo da donzela e pouco a pouco manejava o seu dixikilo como uma varinha mágica, que produzia magia para espantar sua tristeza e nostalgia.
Com o tempo o ritmo do vai e vem com que manuseava o seu instrumento contagiava de alegria quem por ali passava. Foi então que num gesto nobre, decidiu partilhar toda felicidade com quem se apaixonasse pelo mágico ritmo da dikanza que sabe a saudade nos faz viajar pela verdadeira essência de um amor retribuído.
Passou a fabricá-la e entregou- se de corpo e alma, a aquele amor que, para além de paixão, hoje virou seu pão.
Para não ver desvirtuada a menina dos seus olhos, pegou as mãos de quem a quisesse tocar e ensinou a acariciá-la com alma e coração. – Tuxike ó dikanza – Gritava. Por ela desbravou as margens do rio Bengo em busca do bordão e com minuciosidade tatuou nas entrelinhas do seu corpo um ritmo herdado com gratidão.
Nunca lhe foi infiel, mas tocou outros instrumentos pensados na devoção da sua bela e amada dikanza, depois de suado voltava para os seus braços… E o ritmo continuava…
O carnaval chegou, animado vestiu sua amada dikanza com os mais alegres tons, doados pelo pintor que se inspirou na harmonia da varina da menina atrevida que pulou a janela para na marginal rodopiar com alegria tocando latas e agitando as ancas.
Morreu o cantor e a dikanza chorou, no adeus ao maestro toda dor da despedida; envolvida na complexidade desta ida sem volta. Num dia de chuva a dikanza sorriu como ninguém, com ritmo agradecia pelo rosto lavado, o pomar regado, a brisa da mulembeira devolvida …
– A chuva traz vida… A chuva é vida… Tuxike o dikanza. – Cantava distribuindo o recado que é preciso passar o legado( em memoria do grande percurssionista Kituxi).
Escritora