Catarina Fortunato “Mãe dos Setinhos”, trás, essa semana mais uma reflexão sobre o eterno processo de ensino e aprendizagem sempre na perspectiva do refrescamento da memória colectiva. Quem não tem memórias deste ou daquele seu professor?
Catarina Fortunato “Mãe dos Setinhos”*
Estávamos na 4ª classe, lembro-me bem, porque era tempo das mangas e dos chuviscos de pingo grosso.
A nossa escola era pequena, ali na esquina do ex “cala boca”, ladeado pelo bar 11 de novembro. Tinha menos de 10 salas de aula, dois wc, a sala dos professores e o gabinete do director.
Um quintal nada vasto com uma mulembeira de uma sombra abrangente e uma frescura hipnotizante que, às vezes, até adormecia no recreio… Na parte frontal um pequeno jardim e no centro do mesmo a extensa matebeira que abrigava a multidão de andorinhas que davam nome a escola. Escola das ANDORINHAS, mas o nome oficial era 157.
Lembro-me que naquele ano a nossa professora era a professora Tucha, com ar pouco maternal, munida de uma arrogância contundente que disciplinava automaticamente o aluno.
Calhar com a professora Tucha era como ser apanhado na rusga… Ela não era como a professora Cristina que nos trançava às segundas-feiras e, às vezes, nos fazia bolo.
A professora Tucha não batia, mas dava uns castigos… Cópias numerosas, tabuadas dos números grandes, numeração até 1000 e, às vezes, nos colocava de joelho.
De todos os professores o mais temido era o professor Luis… Alguns até chegavam a desistir, quando calhassem com ele ( aquele, “coçava” bem). Era tão íntimo da “Maria das Dores” que, mesmo que encontrasse na rua, antes mesmo que explicasses para onde ias, já levavas( a rua não è lugar para criança).
Nas férias, as aulas de reforço eram na explicação do tio Ferro, ali ou aprendias ou aprendias… Famoso pelos seus métodos de ensino e persuasão. Tio Ferro recebeu esta alcunha, pelo facto da sua palmatória ser feita de pau ferro.
Ele era um antigo combatente, regressado do Congo Democrático que viu na pedagogia uma maneira de ganhar o seu pão e contribuir para o desenvolvimento da nação.
Nós gostávamos do professor Rogério, meigo, bonito e muito empático… Não batia, mas gostava muito dar a tabuada de surpresa nas sextas-feiras e quem acertasse batia em quem errasse…Como ninguém queria ser “bolo” de ninguém, estudávamos afincadamente para dominar a tabuada completa.
No dia 22 de Novembro (dia do educador), cada um levava o que podia… Alguns levavam pão com ovo, outros pipoca com gasosa, outros ainda caldeirada e os mais abastados levavam um bolo inteiro, que era logo “surrupiado” pelos professores…
E hoje somos esta geração que cresceu sabendo a diferença entre a liberdade e a libertinagem.
Escritora
Afonte