• 7 de Abril, 2025

Luanda da sorte

 Luanda da sorte

Esta semana, Catarina Fortunato “Mãe dos Setinhos”, trás mais uma reflexão sobre as sortes e azares da gente de uma capital com pessoas que vão tentando. Quem não se lembra do “Luanda da Sorte”? Quem nunca resistiu a tentação de apanhar dinheiro deixado cair por um azarado ou um feiticeiro que compra almas nas ruas da amargura?

Catarina Fortunato “Mãe dos Setinhos”*

Acordou cedo, fez uma oração de agradecimento e petição. Tomou um duche à moda de gato, vestiu apressado, deu um beijo superficial a esposa, fez uma recomendação qualquer e saiu disparado… Estava atrasado e como na semana passada já tinha sido advertido não queria correr o risco de ser despedido por justa causa.

Luanda andava tensa, fazendo jus à denominação do momento “canteiro de obras”, tinha restauração e reconstrução de estradas por todo lado e para driblar as chuvas, o tempo de cacimbo era o momento certo, evitava-se a fúria do inspetor mor…

Em consequência disso, havia engarrafamentos por todos os lados.

Algo que o empregador não aceitava era o atraso. Quem quer chegar cedo a algum lado, acorda e sai mais cedo de casa. ( Mas será que aqueles mwadiês sabiam o que era sair dos becos do Sambila as 4:00 ou 3 e meia?).

… Cruzou o primeiro beco, esquinou o segundo e quando fez a kikonda para o terceiro viu um grupinho de moços a fumarem liamba, eram 5h:30… Queria regressar, mas arriscou avançar e por sorte eram todos putos da banda…

Na gíria, mandou um bom dia e avançou.

Quando avistou a paragem, fez um reconhecimento na estrada e viu que, era ainda boa hora, o trânsito estava fluido e a paragem vazia… Tropeçou em algo e quando olhou era envelope fez uma simulação e apanhou-o. Já no serviço, correu para o Wc, abriu e viu um volume de notas de 2000 kwanzas, notas recentemente postas em circulação pelo BNA… Contou tudo e eram no total o equivalente a 500 dólares americanos. Cinco salários…

– Dinheiro de se “apanha” não se compra nada para a casa, tens de gastar mesmo na rua ou investir em algo, os teus filhos não podem comer lá…

Simulou uma dor de barriga, foi dispensado e o colega amigo encarregue de o acompanhar… Rumaram para a praça dos trapalhões… O oasis…Para muitos o paraíso. Pediram de tudo um pouco, não queriam nada com cerveja nacional… Era choca, era gambas e cervejas para todos.

Até uma mulata boazuda apaixonou-se por ele… E chamou uma amiga simpática para o seu amigo.

Eram 6h:00 da manha, de um dia normal de expediente… Quando acordaram a beira da praia… Desfalcados. Por sorte tinha guardado no cafocolo duas notas de 2000… Jogou no Luanda da sorte… E por sorte ganhou uma panela de pressão, que explodiu quando a esposa tentava cozer o feijão duro para aldrabar as lombrigas… E por sorte sò lhe queimou a cara…

Escritora

Afonte 

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