Joaquim Ribeiro*

O Minguito foi sempre um tipo visionário com muita criatividade no mundo dos negócios, sabia muito bem como tirar dinheiro das mulheres e crianças, fazendo negócios de cosméticos e guloseimas, bem como criar festivais para os petizes nas suas datas comemorativas.
Antes de ter constituído a sua empresa de animação de festas infantis, aventurou-se na literatura. Publicando livros onde procurava atacar figuras públicas para garantir as vendas. Com o desaparecimento paulatino das gráficas e o encarecimento das impressões, largou rapidamente a publicação de livros, sendo que, publicava na condição de edição do autor, não gostava de levar às editoras para evitar ser aconselhado pelos kotas a não publicar.
Das individualidades visadas nas suas obras, eu lembro-me de nomes como:
– Dog Murras, Anselmo Ralph, Riquinho e alguns generais acusados de esbulho de terras de pacatos camponeses.
Em 2009 depois de ter experimentado vários outros negócios, inclusive o de táxi porta a porta com carros que alugava, o jovem conseguiu criar um negócio bem rentável “ animação de festas infantis”.
Fez tanto sucesso com a mexida da sensibilidade das crianças, que chegou mesmo a tirar alguns clientes da Sónia António, do Pimpão e tantos outros animadores da altura pela sua maneira peculiar de brincar com os “canucos”. Fazendo de alguns participantes verdadeiras estrelas da noite ao promover concursos de Karaoke e outros números hilariantes.
Já animou uma festa no jardim do palácio presidencial num aniversário de um dos filhos de Isabel dos Santos, primogénita do antigo Presidente da República, José Eduardo dos Santos. Animou igualmente, festas de filhos dos Deputados, filhos dos funcionários do Ministério do Interior e de vários membros de proa do MPLA. Destas actividades, chegou a juntar mais de cem mil dólares norte-americanos nas suas duas contas bancárias domiciliadas no BFA e BIC. Só que como tinha “olhos de gente” fez mal-uso dos seus recursos, comprando um Jeep no valor de 37 mil dólares, fatos caros, dois telefones altamente caros, relógios raros e roupas desportivas igualmente valiosas. Parece que naquela altura já tinha estas “manias lussatistas”.
Quando eu o questionava sobre tais gastos, ele dizia que no mundo dos negócios era preciso impressionar os potenciais clientes com benesses para garantir as vendas. ” Esta gente só negoceia com gajos que ostentam”, – assegurava. O mais estranho para mim, era que o tipo vivia num “quartito” arrendado no Bairro Popular, fazendo as suas refeições e necessidades maiores em restaurantes de luxo para mais tarde exibir as fotos dos caríssimos pratos nas redes sociais.
Uma vez um amigo nosso disse –lhe, “ invés de estares a andar num carro caro, devias, mazé te preocupares em construíres uma casa. ”- Em resposta, disse que tivera pagado um terreno na administração de Cacuaco , mas que como tantos outros, que estiveram no mesmo processo foram burlados, pelo que, perdera a vontade de erguer uma casa .
O negócio do jovem continuou a prosperar, a ponto de deixar o bairro popular e arrendar um apartamento em Talatona . Ali começou a frequentar algumas festas de elite, e como era cinéfilo, não perdia as estreias mundiais de filmes no Belas Shopping. Gastar era mesmo gastar, não pensava mais no dia seguinte, só queria viver o momento em alta.
Uma vez, liguei ao tipo a pedir emprestado 30 mil kwanzas para serem devolvidos na semana seguinte, pois os nossos salários demoravam muito a serem pagos. Quando caíssem, alguns colegas já estavam endividados até ao pescoço. Em resposta, o Minguito disse-me que não tinha dinheiro para me emprestar, alegando ter investido tudo num novo material para a sua empresa de animação. Eu disse que estava tudo bem e que iria bater à outras portas. Só que para o meu espanto, por volta das 20 horas daquele dia, ” o Dred” liga com a conversa de que estava a gastar avultadas somas monetárias numa casa de venda de prazeres sexuais, onde se podia escolher mulheres brasileiras, moçambicanas ou mesmo angolanas fogosas. Após ouvir aquilo, só tive tempo de desligar a chamada telefónica .
Possíveis causas da queda do negócio de Minguito
No dia da festa do filho da Isabel dos Santos, a sua equipa de animação chegou altamente atrasada ao evento, mais de uma hora de atraso, a ponto de não encontrar os colegas e amigos do aniversariante, na sua maioria crianças que estudavam na escola francesa. Quando a Isabel dos Santos deu de caras com o tipo, lamentou o atraso e disse, “isto é after party ! Todas as crianças já foram as suas casa . ” – O malandro desculpou-se pelo atraso e ainda teve o atrevimento de oferecer uma boneca à Isabel, uma daquelas bonecas compradas nas cantinas dos “Senês”.
O Marido da Isabelita , Sindika Dokolo, de feliz memória , ainda deu uns conselhos de vida ao jovem , tendo mesmo dito, que se ele atingira o palácio presidencial era porque estava num bom caminho e só teria de ser mais responsável , honrando com os seus compromissos . Desde aquela data, nunca mais foi chamado pela antiga família presidencial.
O seu amor pela Rádio também pode ter contribuído para a sua queda. A dado momento, conseguiu um tempo de antena na Rádio Despertar, onde realizava e apresentava um programa infantil. Volvidos dois anos, notou que os clientes ligados ao partido no poder começaram a descartar os seus serviços, tendo mesmo desconfiado que estariam a pensar que ele fosse militante da UNITA, por estar a apresentar um programa com muita audiência naquela estação de rádio ligada ao partido do Galo Negro . Para não agravar a sua situação decidiu abandonar o programa e tentar recuperar os seus clientes de luxo.
Com o agravar da falta de clientes, não conseguia mais pagar o apartamento em Talatona , pelo que, decidiu apelar nas redes sociais à sensibilidade das pessoas para o adoptarem como filho, e assim passar a viver em casa de quem aceitasse . Uma irmã da sua falecida mãe, comovida com o desespero do sobrinho decidiu acomoda-lo num quarto de sua residência no Rocha Pinto , onde vive nos dias que correm .
O Jeep que comprou a 37 mil dólares estava sobre pedras, por causa de problemas na caixa e nas rótulas. Teve de vender para constituir um outro negócio. E os “micheiros” que intermediaram a venda do carro, garantiram apanas dois milhões e quinhentos Kwanzas, valores que mantem guardados até pensar num negócio ideal nesta fase da pandemia da covid-19.
Durante a madrugada de 10 de Junho de 2021, dia em que eu estava a concluir esta crónica, sonhei que o Minguito tinha se aventurado num destes jogos da sorte e azar na província do Cuando Cubango e ganhado nove milhões de kwanzas . Para me garantir que nem tudo estava perdido na sua vida, chamou-me para anunciar a proeza. O meu conselho foi fazer-lhe jurar que não voltasse mais a viver de aparência e que investisse bem o dinheiro para garantir o seu futuro.

Jornalista

Afonte