Em entrevista afonte, o jurista, advogado e político angolano, Carlos Xavier, fala sobre actual situação econômica social e política da província de Malanje. Para ele, o “governo central vê os malanjinos como mão de obra barata que só serve para lhes votar”.
afonte – Como está a ser governada Malanje?
Carlos Xavier (CX) – Malanje está a ser muito mal governada. O Executivo demonstra não ter programa e está muito cansado.
afonte – O sentimento de exigência de exoneração do governador Norberto dos Santos “Kwata Kanawa”, continua?
CX – Sim continua, apesar de ser, para mim, um problema falso. Pois que, a questão de Malanje e o seu consequente atraso, não é da responsabilidade única do atual governador, mas do governo central que vê os malanjihos como mão de obra barata que só serve para lhes votar. Quanto ao demérito do atual, reside no facto de, não ter coragem para se demitir, de modos, a salvaguardar a sua imagem, já que, o povo espera dele a resolução dos problemas dos quais não está preparado.
afonte – O que o povo malanjino quer, de facto?
CX – O povo quer um governo que resolva os seus problemas.
afonte – Acha que a província foi esquecida pelo governo central?
CX – Indubitavelmente. A província foi completamente esquecida, resevada para o desfile político e para sacar dela as suas riquezas.
afonte – Recentemente, o senhor e um grupo de activistas foram detido. Porque?
CX – Eu não. Mas os ativistas foram detidos de forma ilegal mesmo estando no exercício de um direito fundamental e constitucionalmente protegido, como que se estivéssemos diante de um Estado selvagem. Aqui tem sido difícil distinguir o bandido do polícia sempre que se está a manifestar.
Afonte – Como estão as liberdades de expressão e de imprensa na província de Malanje?
CX – As únicas rádios que dão voz aos cidadãos são: a Ecclesia,Voz da América, Rádio Mais e o Novo Jornal. Os órgãos públicos dos quais somos contribuintes se comportam como propriedades do MPLA, infelizmente. Não se pode falar de liberdade de expressão quando jovens, muitas vezes, são detidos antes mesmo de começarem a se manifestar.
afonte – É proibido manifestar-se contra qualquer situação que afecte a população em Malanje?
CX – Sim. Verifica-se uma proibição tácita. Aqui a polícia é completamente manipulada para não permitir qualquer protesto contra a má governação.
afonte – Mas há esperança de dias melhores?
CX – Certo: Está a emergir uma nova elite política, acadêmica, religiosa e cultural, que percebeu que um governante é um servidor público e, por isso, tem estado a mobilizar a província para a necessidade de se fiscalizar as acções do governo e tem feito apelo para a alternância do poder.
afonte – O que devia ser feito para que todas estas situações que mencionou sejam ultrapassadas?
CX – Mais pressão ao governo, que o mesmo tenha visão na programação, rigor na execução e que tenha um cumprimento rigoroso das leis.
afonte – E isto está para breve?
CX- Quanto a pressão, isso está para breve. Na mudança de atitude para uma governação responsável virada para o cidadão, tenho dúvidas que isso aconteça, ainda que possamos dar mais 50 anos ao MPLA, eles já não farão nada. Pois, “niguém dá o que não tem”.
afonte
