Albano Evaristo Bingo -Bingo, um dos ativistas que esteve envolvido no processo judicial 15+2, morreu nesta terça-feira (29.11), vítima de doença em Luanda. Afonte conversou com o ativista José Gomes “Hata” sobre o legado do malogrado.

Afonte – Que memórias tem sobre Bingu-Bingu já que também fez parte do processo dos 15+2?

José Gomes “Hata” (JGH): Um grande guerreiro, destemido, simples, e de trato fácil. Na última fase do processo, logo após a condenação fomos distribuídos pelas várias cadeias de Luanda e Bengo, eu, o Bingo, Hitler e Domingos da Cruz calhamos no Estabelecimento Prisional de Kaquila, e lá ficamos cerca de um mês, durante este período deu para reconhecer sua simplicidade bem como o seu à vontade com os familiares dos seus companheiros.

Afonte – Como ativista, como carateriza este defensor dos direitos humanos?

JGH: Tenho dito que apesar das diferenças que caracterizam os 15+duas, a grande semelhança é a vontade por ver a transição do regime político. Bingo faz parte da primeira geração de ativistas, que percebe que para a realização dos direitos e liberdades fundamentais e desenvolvimento econômico de Angola, o primeiro passo seria a abertura do sistema político.

Afonte – Acha que a luta do Bingo na defesa dos direitos humanos e da democracia foi conluida ou vocês activistas vão dar sequência?

JGH: Quando se luta contra uma máquina política os ganhos são graduais, sendo assim parte dos seus objetivos foram alcançados. Hoje temos uma sociedade mais dinâmica, que, pelo menos, já percebe que para que a sua vida funcione todo aparelho do Estado deve funcionar e quando assim não faz reivindica. Foi um ganho adquirido fruto das lutas iniciadas em 2011 e que culminou com a nossa prisão em 2015. É responsabilidade de todos e não só dos 15+Duas dar sequência daquilo que sempre se fez procurando obviamente adaptar-se em cada contexto.

Afonte – Já agora, que legado deixa Albano Bingo-Bingo?

JGH: Um legado de resistência e até superação. Não se conhecia muitos familiares de Bingo, fazia as suas coisas praticamente sozinho, ainda assim tirou parte da sua vida para doar ao país.

Afonte – Como está a situação social dos defensores dos direitos humanos em Angola?

JGH: A situação social dos dos defensores dos direitos humanos em Angola é semelhante a dos outros 30 milhões de angolanos oprimidos, agravada pelo facto destes defensores colocarem-se a frente das lutas sociais, obviamente que a opressão é duplicada. Só para se ter noção ainda temos companheiros presos, o Tanaice Neutro e o Luther King.

Afonte – Que posição espera do Estado em relação ao exercicio dos direitos humanos nos próximos cinco anos?

JGH: Quanto mais tempo o MPLA permanecer no poder e não realizar os fins do Estados mais reivindicações serão despoletadas, e como temos um governo sem capacidade de responder as demandas populacionais vai procurar armar ainda mais as forças de defesa e segurança e instrumentalizar os Tribunais. Os próximos 5 anos serão os mais difíceis na história do direitos humanos em Angola.