Jean-Philip Struck (DW): Grupos organizados de extremistas de direita promoveram neste domingo (08/01) um dia de terror em Brasília, invadindo e depredando o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e a sede do Supremo Tribunal Federal (STF) – marcando o momento mais violento da política brasileira pós-redemocratização e um ápice do movimento golpista que tenta reverter ilegalmente o resultado da última eleição presidencial.
O saldo de discursos golpistas e mentirosos reverberados por personagens da extrema direita – incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro –, o financiamento e tolerância a acampamentos bolsonaristas e a leniência de cúpulas das forças de segurança com atos antidemocráticos pôde ser observado neste domingo, após os invasores serem expulsos dos edifícios: salas destruídas, obras de arte saqueadas ou vandalizadas, móveis atirados contra janelas, policiais feridos, jornalistas agredidos e mais de 200 golpistas presos em flagrante.
Acção leniente da polícia
Vestidos com as cores verde amarela e pregando um golpe militar, os bolsonaristas invadiram primeiro o Congresso e depois se dirigiram para as sedes os outros poderes, nunca sendo barrados de maneira decisiva pelas forças de segurança do Distrito Federal, o que levantou acusações de conivência ou incompetência das autoridades locais.
Um veículo da Força Nacional chegou a cair dentro do espelho d’água em frente ao Congresso. No STF, os golpistas depredaram o plenário do tribunal e usaram uma mangueira de incêndio para inundar o local. No Planalto, tiraram selfies e transmitiram ao vivo a destruição de salas, além de roubarem armas e papéis e depredarem a galeria de retratos de ex-presidentes.
A depredação só terminou mais de duas horas depois, quando a tropa de choque e a cavalaria da PM finalmente agiram de maneira decisiva contra os bolsonaristas.
Nos últimos dias, o movimento golpista vinha recebendo reforço de novos extremistas, que chegaram a Brasília em dezenas de ônibus. Nas redes sociais bolsonaristas, circulava nesta semana uma convocação de uma “tomada de Poder pelo próprio povo” marcada para ocorrer no Congresso em 7 e 8 de Janeiro.
A cidade já estava sob tensão desde actos violentos cometidos por bolsonaristas em Dezembro, incluindo uma tentativa de atentado a bomba contra o aeroporto da cidade.
“Este genocida não só provocou isso, como está estimulando ainda pelas redes sociais”, disse Lula. “Nós vamos tentar descobrir quem financiou isso. E essa gente toda vai pagar. Se houve omissão de alguém no governo federal que facilitou isso, também será punido”.
Lula não estava em Brasília durante a invasão. Ele havia viajado para Araraquara (SP) e transformou a sede da prefeitura local em um gabinete de crise. O presidente se dirigiu a Brasília durante a noite e inspecionou os danos no Planalto.
Condenações também partiram de ministros do STF. Alexandre de Moraes, que é visto como um inimigo pelos bolsonaristas, classificou os atos deste domingo como “terroristas” e afirmou que “os financiadores, instigadores, anteriores e atuais agentes públicos que continuam na ilícita conduta dos atos antidemocráticos” serão responsabilizados.
Intervenção no Distrito Federal – governador é afastado
O dia de terror bolsonarista também levou Lula a assinar um decreto de intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal, após as autoridades locais ligadas ao bolsonarismo serem acusadas de incompetência na gestão da crise e até cumplicidade com os golpistas.
No final do dia, foi a vez de o ministro Alexandre de Moraes determinar o afastamento por 90 dias do govenador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), um aliado de Bolsonaro.
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