DW/Lusa-O comandante da Guarda Nacional da Guiné-Bissau e mais alguns elementos da corporação foram detidos e conduzidos para as instalações do Estado Maior General das Forças Armadas. Disparos deixaram de ouvir-se em Bissau.
O coronel Vítor Tchongo “e mais alguns soldados” da Guarda Nacional foram detidos por elementos da Polícia Militar, depois de confrontos armados entre a Guarda nacional e forças do Batalhão do Palácio presidencial que começaram ao início da madrugada de hoje, disseram à Lusa fontes militares.
Na capital da Guiné-Bissau deixaram de ouvir-se, por volta das 09:00, os disparos de armas, que começaram cerca das 01:20, prolongaram-se por alguns minutos e voltaram a ouvir-se pouco depois das 07:00. “Ouvem-se tiros de armas automáticas em Bissau. As informações são escassas”, descrevia esta manhã o correspondente da DW na capital guineense.
Segundo a Lusa, os disparos partiram das imediações do quartel no bairro de Luanda e de outras instalações da Guarda Nacional.
A zona dos bairros mais próximos dos disparos, como Santa Luzia, Luanda, Empantcha estava sem movimentos de viaturas e pessoas.
Fontes militares afirmam à Lusa que houve confrontos entre elementos da Guarda Nacional e forças do Batalhão do Palácio presidencial, numa altura em que o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, Biague Na Ntan, se encontra fora do país.
Os tiros acontecem na sequência de tensões vividas durante toda a noite passada, depois de o Ministério Público ter decretado a prisão preventiva do ministro das Finanças, Sulemaine Seide, e do secretário de Estado do tesouro, António Monteiro.
Coligação critica “uso desproporcional” da força
A coligação no Governo na Guiné-Bissau acusou hoje o batalhão do Palácio Presidencial de estar a fazer um uso “desproporcional e despropositado” da força após confrontos com a Guarda Nacional.
Em declarações à agência Lusa, fonte da Coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) – Terra Ranka, que pediu para não ser identificada, considerou que a troca de tiros que ocorreu esta madrugada e hoje de manhã em Bissau é “um golpe de força da Presidência da República contra a Guarda Nacional que simplesmente havia protegido a vida de dois membros do governo”.
“Nada justifica tal uso da força e este nível de violência indiscriminada”, acrescentou a mesma fonte, pedindo à comunidade internacional que exija uma intervenção da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental CEDEAO), que tem no país uma força desde a tentativa de golpe de Estado de 01 de fevereiro de 2022.
Questionada sobre se o atual confronto pode evoluir para um conflito mais grave, a fonte da coligação considerou que “se não se parar a atual ofensiva, será esse o risco”.
Tensão após prisão preventiva de governantes
Os dois membros do Governo foram levados para a sede da Polícia Judiciária, de onde terão sido retirados das celas por elementos da Guarda Nacional, segundo indicaram à Lusa várias testemunhas.
Os governantes estão a ser investigados no âmbito de um pagamento de seis mil milhões de francos CFA (cerca de 10 milhões de dólares) a 11 empresários, através de um crédito a um banco comercial de Bissau.
A oposição, que denunciou o caso no parlamento, defende tratar-se de crime prevaricação e desrespeito por normas orçamentais, imputado ao ministro da Economia e Finanças, entretanto, ouvido na passada segunda-feira no parlamento.
Suleimane Seidi confirmou a solicitação do crédito, defendeu que todo o processo obedeceu à legalidade e reafirmou ser um procedimento normal entre os Governos da Guiné-Bissau.
Logo após a denúncia do caso, o Ministério Público efetuou buscas e apreendeu documentos no Ministério da Economia e Finanças e ainda no banco que concedeu o crédito para o pagamento aos empresários