Em fim de missão, Dirk Lölke, o embaixador da República Federal da Alemanha, chamou amigos, colegas do corpo diplomático e autoridades angolanas para um encontro de despedida. O evento singelo decorreu há pouco mais de uma semana num emblemático restaurante a beira-mar, na Ilha do Cabo, em Luanda. Na sequência desse encontro, em que nos fizemos presentes, Dirk Lölke respondeu a um breve questionário sobre a sua vivência de três anos em Angola, tendo como foco a cultura e os costumes angolanos.
Há quanto tempo está em Luanda e como recebeu a proposta de trabalhar em Angola?
Cheguei em Agosto de 2018, depois de, pouco antes disso, em Abril de 2018, ter recebido a proposta no Ministério das Relações Externas em Berlim.
O que esperava encontrar em Luanda, em particular, e em Angola, em geral?
Luanda foi o meu primeiro posto em África. Antes de vir quase que não tinha ideia, estava somente curioso.
Quais as principais surpresas que encontrou em Luanda ou o que não esperava encontrar nesta cidade?
Eu supunha que uma capital tão grande também tivesse um sistema de metro de superfície moderno.
Fez amigos fora do meio diplomático?
Sim, especialmente entre os fantásticos angolanos que trabalharam ou estudaram na Alemanha.
Chegou a frequentar ambientes típicos angolanos?
Visitei concertos de Paulo Flores, Waldemar Bastos e Rui Mingas.
Fale-nos dos momentos em que passou despercebido como diplomata?Infelizmente estes não aconteceram.
Escolheu o Café Del Mar para a sua despedida. O que este local tem de especial?
É um local particularmente agradável para relaxar. Eu gosto muito da Ilha do Cabo em geral.
Tem outros locais especiais que aprecia em Luanda? Quais as razões?
Por exemplo, os terraços da Fortaleza, onde o vento conta a história de Luanda e onde costumávamos festejar o nosso dia nacional. Adorava o momento em que o pequeno barco para o Mussulo saía e ia ganhando velocidade, dando assim a sensação da vida num salto.
O que acha que Angola tem de semelhante e diferente em relação a outros países do mundo?
Acho que Angola é muito peculiar. Não me ocorre nenhum país do mundo com o qual a possa comparar.
Fale-nos de outras experiências em Angola, fora da província de Luanda…
Aqui há mais do que posso nomear: no Namibe, Baía dos Tigres, no Lubango a vista única da Serra da Leba, uma fazenda de café no Kwanza-Sul e lamento ter de parar aqui.
Teve tempo de aprender a dançar Kizomba, Semba ou Kuduro? O que acha delas?
Acho muito atractivo. No entanto, se eu tivesse tentado dançar, teria medo de prejudicar a reputação da Alemanha em Angola.
O que acha estranho em Luanda?
Que os condutores que se apresentam pela esquerda, acreditem que têm prioridade sobre o trânsito em sentido contrário.
Como lidava com o engarrafamento e o atraso dos angolanos?
Luanda é uma cidade grande, não notei engarrafamentos ou atrasos particularmente significativos.
Muitos angolanos torcem pela selecçao alemã de futebol e por clubes como o Bayern de Munique. Fale-nos de algum momento de tristeza ou alegria, de uma vitória ou derrota alemã, aqui em Angola?
A maior derrota pessoal ensinou-me a língua portuguesa em Angola. Além disso, sou totalmente anti-desportivo.
O que diz da gastronomia e de outros aspectos culturais? Houve comidas que achou estranhas?
Uma questão curiosa! Se for funge, então tem que ser funge de milho. Para mim, a cozinha angolana significa principalmente peixe e marisco. E – se assim posso dizer -, vinho português, que só aqui passei a apreciar de verdade. Gosto muito da vossa literatura, como o ambiente em “Geração da Utopia” ou no alusivo e divertido “Sua Excelência, de corpo presente” de Pepetela.
Uma mensagem para os angolanos nesta fase de despedida…
Muito obrigado pela vossa hospitalidade. Continuem a moldar o vosso próprio futuro com ambição e autoconfiança. Deixem os vossos filhos aprenderem alemão.
JA