Rio de Janeiro: Espancado com pelo menos 30 pauladas em quiosque na Barra da Tijuca, Rio, Moïse Kabamgabe foi o quinto congolês morto no Brasil nos últimos seis anos, de acordo com a Embaixada da República Democrática do Congo.
Em todos os casos, a representação diplomática do país questionou o Itamaraty para que uma resposta fosse dada aos crimes, mas nunca recebeu uma resposta, segundo afirmou ao g1 o embaixador do Congo no Brasil, Mutombo Bakafwa Nsenda.
“Enviamos cartas ao Itamaraty dizendo que a Justiça precisava ser feita. Todas as vezes em que escrevemos, nunca tivemos uma resposta. O último caso foi o de um rapaz assassinado na prisão por outros prisioneiros, que estavam com ele na mesma cela. Contactamos o Itamaraty e não tivemos nenhuma resposta – é um caso que aconteceu há mais de seis meses e não houve reparação judicial ou civil para a família dele”, disse o diplomata.
Ao g1, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) afirmou lamentar as mortes. “A apuração dos factos e a persecução criminal dos responsáveis competem aos órgãos de segurança e judiciários no Rio de Janeiro, aos quais poderão ser dirigidas consultas adicionais sobre o caso”, disse.
Na segunda-feira (31), a embaixada enviou um ofício ao governo do país informando sua “indignação” e afirmando que o governo congolês aguarda uma resposta dos resultados das investigações policiais.
Segundo o embaixador, por ter o status de refugiado, Moïse estava sob proteção do governo do Brasil.
“A posição do governo congolês está relacionada ao status de Moïse – ele era um refugiado que chegou ao Brasil em 2014. Como todo refugiado, ele e a família estão sob proteção do estado brasileiro. Nossa embaixada escreveu oficialmente ao Itamaraty para relatar os fatos que nos foram comunicados no Rio”, contou Nsenda, que não recebeu resposta.
O congolês foi espancado até a morte na segunda-feira (24) no Rio. Ele trabalhava por diárias em um quiosque na Barra da Tijuca, na Zona Oeste da cidade, e teria ido cobrar 200 reais, cerca de 20 mil kwanzas.
Segundo a família, Moïse foi vítima de uma sequência de agressões. Seu corpo foi achado amarrado em uma escada. O caso é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital e está sob sigilo.
Ele e a família vieram para o país em 2014, como refugiados políticos. Nsenda destaca que ele, por ter tal status, não era registrado na embaixada do país.
“Este é, sobretudo, o caso de um refugiado. Ele não estava registrado ou era conhecido pela embaixada – fomos informados apenas depois da morte dele. Mas como se trata de um compatriota, a embaixada escreveu imediatamente ao Itamaraty e também informou o governo da República Democrática do Congo”, informou o embaixador.
Congolês morto por engano
Um dos congoleses mortos no país foi assassinado por engano, em Uberlândia, em 2018. O mecânico Jacques Onza levou três tiros quando estava em um bar com os amigos e a noiva. O africano tinha uma companheira na cidade e uma filha de dez anos no país de origem, que morava com a família dele.
De acordo com o delegado Fábio Ruz, o inquérito mostra que Jacques foi confundido com um desafeto do autor dos disparos por ser muito parecido com o alvo do assassino.
“Os dois são altos, negros e falam francês. Além disso, a verdadeira pessoa que queriam matar frequenta bares e jogos de sinuca, e no dia do crime Jacques também estava em um bar. Infelizmente foi uma coincidência. O verdadeiro alvo foi ouvido pela polícia e está com bastante medo de ser assassinado”, acrescentou o delegado na época.
Jacques foi estudante de engenharia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) por meio de intercâmbio no início de 2012. No mesmo semestre letivo, desligou-se da instituição e, desde então, permaneceu morando e trabalhando em Minas Gerais.