Renato Matusse disse que negociador da Privinvest ofereceu-lhe 1,6 milhões de dólares em bens. Audição teve novo pedido da defesa para a proibição de registos da imprensa: “O julgamento é público”, respondeu o juiz.
O réu Renato Matusse admitiu, esta sexta-feira (10.09), na audição do processo das dívidas ocultas, ter recebido uma oferta de 1,6 milhão dólares [mais de 1,3 milhão de euros] em bens móveis e imóveis do empresário libanês Jean Boustani – o principal negociador da empresa Privinvest.
A Privinvest tem sido associada ao escândalo financeiro que lesou o Estado moçambicano em cerca de dois mil milhões de dólares [quase 1,7 mil milhão de euros]. Ex-conselheiro político do antigo Presidente Armando Guebuza, Matusse é acusado de associação para delinquir, peculato, branqueamento de capitais e tráfico de influências.
“Na conversa que nós desenvolvemos acabei mostrando as minhas dificuldades, vamos assim dizer, e ele [Jean Boustani] acabou acedendo dar o apoio”, disse Matusse à representante do Ministério Público, Ana Sheila Marrengula, quando a magistrada quis saber porque é que o réu recebeu o dinheiro.
Inibido pelas câmaras
Apesar de admitir ter recebido a oferta de bens do Boustani, o ex-conselheiro político de Armando Guebuza não quis entrar em pormenores sobre as alegadas “dificuldades” que estaria a passar.
“São assuntos de fórum privado. Com imagens e a televisão a transmitir aqui, acho que há coisas de que temos de nos salvaguardar também”, argumentou.
A operação alegadamente combinada entre Matusse e Boustani não significava transferência direta de dinheiro da Privinvest ao conselheiro político. O arguido explicou que, por uma questão de “conveniência”, as transferências seriam efetuadas diretamente aos vendedores dos imóveis adquiridos.
Matusse disse que conheceu Boustani na Presidência da República e viu no empresário libanês “um ativo para penetrar no mundo árabe”. O ex-conselheiro de Guebuza negou, entretanto, que tenha assumido o papel de facilitador ou de intermediador dos interesses do grupo Privinvest.
DW