Defensores dos direitos humanos acreditam que mais problemas sociais serão denunciados pelos bispos católicos nos próximos dias. Nova equipa da CEAST, constituída por “revús”, não agrada a todos.
Em Angola, um “revú” é um cidadão que critica a gestão da coisa pública. E muitos bispos católicos fazem-no quase sempre.
Talvez tenha sido por isso que muitos cidadãos angolanos aplaudiram a noticia da nomeação de Dom José Manuel Imbamba para o cargo de presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST).
Imbamba, o vice-presidente Estanislau Chindecasse, o secretário-geral Maurício Camuto e o porta-voz Belmiro Chissengueti são considerados “revús”.
“No nosso país, quem pautar-se pela verdade é tido como ‘revú’. E os senhores que constituem a nova equipa da direção da CEAST são pessoas que se pautam pela verdade. São pessoas que dirão ‘não’ quando for para dizer ‘não’ e dirão ‘sim’ quando for para dizer ‘sim'”, explica o ativista cívico Nelson Euclides.
Outra ativista socia, Esperança Veiga, lembra que mesmo antes de os religiosos assumirem a direção da CEAST, já prestavam atenção aos problemas sociais. “Agora, acredito que os cuidados serão redobrados”, opina.
Provocam “irritações”
Euclides não tem dúvidas de que as denuncias de injustiças sociais serão cada vez mais frequentes, porque é a característica crítica da nova equipa que coordena a CEAST.
“Numa das reuniões recentes [da conferência], eles falaram sobre os problemas sociais a ponto que irritarem algumas pessoas”, argumenta.
Uma das pessoas supostamente irritadas foi Paulo de Almeida, comandante-geral da polícia angolana. “A igreja é parceira e parte do sistema de segurança pública. Segurança é mentalidade. Se a igreja ainda não conseguiu acabar com os pecados e os pecadores, não podemos pensar numa segurança pública ideal”, opinou Almeida.
A suposta irritação surge depois de, no último dia 11 deste mês, os bispos católicos mostrarem-se preocupados com a insegurança no país.
Parceiras do Estado
No mesmo documento, a CEAST também apelou à “independência dos poderes Executivo, Legislativo e Judicial”, depois do Tribunal Constitucional ter anulado o congresso da UNITA que elegeu Adalberto Costa Júnior em 2019.
Em Angola, as igrejas são consideradas parceiras do Estado, sobretudo nos setores da educação e saúde.
Manuel Homem, ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, reiterou à semana passada, continuar a apoiar os projetos das igrejas “que visam fortalecer a paz, a democracia e a união de todos os angolanos”.
DW