O líder do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no poder, disse esta terça-feira (05.04) que a oposição está fragilizada, por isso recorre a “golpes baixos”, como mobilizar jovens para vandalizar bens públicos e privados.
“Eles estão fragilizados, estão a dar sinais evidentes de que estão fragilizados, quando alguém recorre a golpes baixos é porque está fragilizado, essa mobilização dos jovens radicais para o vandalismo é um golpe baixo”, disse João Lourenço, quando discursava na província do Cunene, onde lançou a pré-campanha eleitoral do MPLA.
“Em vez de se preocuparem em conceber um bom programa de governação, preocuparem-se em disseminar o conteúdo desse mesmo programa, para que os eleitores o conheçam e o defendam, o que eles estão a fazer é tudo errado”, afirmou.
“O único programa de governação que eles têm é mobilizar alguns jovens radicais nas cidades, dar-lhes meia dúzia de tostões para irem comprar uma cerveja, se calhar algo mais droga do que isso, para cometerem atos de vandalismo, este é o programa de governação que, infelizmente, a nossa oposição tem”, complementou.
João Lourenço citou os atos de destruição de comités do MPLA em janeiro deste ano, em Luanda, na sequência de uma greve de taxistas, e mais recentemente no município de Sanza Pombo, na província do Uíge.
‘KO’ da oposição não será difícil”
Segundo João Lourenço, o recurso da oposição a “uma simples comissão instaladora, que não está reconhecida como partido político, mas que age como tal, em desrespeito ao Estado” é igualmente sinal dessa fragilização da oposição.
O presidente do MPLA referia-se ao projeto político PRA-JA Servir Angola, do político Abel Chivukuvuku, que não foi reconhecido pelo Tribunal Constitucional, integrando agora a plataforma política Frente Patriótica Unida (FPU), constituída pelos partidos União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e o Bloco Democrático (BD), criada para a alternância do poder nas eleições gerais prevista para a segunda quinzena de agosto deste ano.
“Quando você vai à escola de condução fazer exame para ter a carta de condução e sai de lá reprovado, dizem: volte daqui a uns tempos, prepara-se melhor, volte daqui a uns tempos para voltar a fazer o exame e nós te darmos a carta que vai habilitar a conduzir um carro, significa dizer que não pode conduzir carro nenhum na via pública até voltares lá a fazer novo exame”, disse João Lourenço.
“Mas o que estamos a ver é alguém a circular na via pública, um desencartado, porque não está reconhecido como tal, não tem carta de condução, não tem livrete, não tem título de registo de propriedade e está a circular na via. O que é que se faz? A polícia não pode deixar esse carro circular, é um perigo, pode trazer desgraça”, ironizou. João Lourenço questionou que tipo de democracia defende a oposição, quando “agem como se fosse anarquia”.
“Em agosto vamos mandar também os desencartados de novo para a escola de condução, é a única forma de levá-los a respeitar a lei e o Estado, mas assim não vão longe, estão a dar todos os sinais de tanta debilidade que acredito que o ‘KO’ não será difícil”, frisou.
Eleições não são favas contadas, alerta JLo
Apesar das debilidades apresentadas pela posição, prosseguiu João Lourenço, o MPLA não pode ser triunfalista “ao ponto de dizer já está”, tendo aconselhado a que esta expressão fosse abandonada.
“Temos de nos preparar convenientemente, temos de trabalhar, continuar a trabalhar, quer os militantes do MPLA que estão no Executivo, quer os militantes no geral, os nossos amigos, os nossos simpatizantes, os angolanos no geral que acreditam no nosso projeto de governação, todos nós temos de nos preparar até ao último minuto”, disse.
João Lourenço disse que ainda que “como bons alunos” considera que o partido está suficientemente preparado para enfrentar as eleições, ou seja, “o júri, que é o povo soberano”.
“Mas, como todos nós sabemos, quando se aproxima um exame há aqueles alunos que ficam muito perturbados, muito inquietos, porque não se prepararam, então têm medo do júri, sabem que vão reprovar, porque ao longo do ano, quando deviam estar a estudar, faziam gazeta, não estudavam, faziam coisas feias, praticavam atos de banditismo e outras coisas e o professor não vai perguntar nada sobre banditismo, essa matéria não existe”, referiu.
O presidente do MPLA transportou o exemplo para a política e disse que a situação “é a mesma coisa, igualzinho” ao que os adversários do partido estão a fazer.
Gestores ainda mexem no erário, mas menos “descarados”
No mesmo discurso, o líder do MPLA admitiu que ainda há gestores públicos que mexem no erário, mas “não com tanto descaramento, com tanta falta de medo, como era no passado”. Segundo o também Presidente, nos cinco anos do seu mandato que agora terminam, foi feita “uma viragem radical no que diz respeito à gestão da coisa pública”.
“Não estou a dizer que não há gestores que mexem no erário público, não estaria a dizer a verdade se fizesse essa afirmação, temos de assumir que ainda há gestores que mexem no erário público, mas não com tanto descaramento, com tanta falta de medo, como era feito no passado”, referiu, numa intervenção de 50 minutos. O líder do MPLA frisou que os gestores têm hoje mais cuidado, por saberem que “se forem apanhados não haverá impunidade”.
“O grande mal do passado, não era só haver corrupção, haver roubo, porque às vezes quando a gente utiliza a expressão corrupção acaba por ser uma palavra bonita e como o ato em si não é bonito, temos de chamar as coisas pelo seu verdadeiro nome, corrupção é roubo”, afirmou, sublinhando que mais grave do que haver corrupção “era a impunidade”.
“Ninguém fazia nada, o que acabava por encorajar outros a fazerem o mesmo. Neste mandato, demos passos importantes na luta contra a corrupção”, frisou.
João Lourenço, que falava na qualidade de líder partidário, salientou que não se pode ainda manifestar satisfação total com os resultados alcançados, realçando que foram já recuperados muitos recursos, “mas não chega”.