Mais de um milhar de jovens peregrinos católicos dos Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) deslocaram-se a Portugal para participar na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que decorre em Lisboa entre os dias 1 e 6 de agosto, e conta com a presença do Papa Francisco.
Semanas antes de sairrem dos seus respectivos países, já havia sentimentos em relação à possibilidade de peregrinos de Angola, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe aproveitarem esta vinda à Europa para ficar em Portugal .
O jovem Mazivele, que insiste em ser identificado por um nome fictício, é um dos 600 peregrinos que integra a caravana moçambicana. Faz parte dos mais de um milhão de pessoas que vieram para Portugal com a expetativa de hospedar novas experiências e “aprender mais com os que vêm de fora”.
Traz consigo o espírito de fé, diz, mas também as inquietações de muitos jovens moçambicanos que querem estudar e trabalhar. Mazivele ambiciona entrar para a faculdade e fazer o mestrado na Europa na área da contabilidade. A DW África perguntou se vai ficar em Portugal: “Não! É só troca de experiência. Um dia poderei regressar”, disse, categórico.
Embaixadas desconhecem a situação
Esta segunda-feira (31/7), veio ao público a notícia segundo a qual 106 jovens de Angola e Cabo Verde estavam em parte incerta, de acordo com a Diocese de Leiria onde seriam acolhidos. As embaixadas dos dois países dizem desconhecer a situação.
Reconhecendo a difícil situação em Angola na área social e económica, a Igreja Católica angolana pediu “boa fé” e exortou os mais de 500 jovens que viajaram para Portugal a “evitarem a fuga”.
Em Cabo Verde, de onde vieram quase mil jovens, há nesta altura uma forte pressão na procura de vistos para Portugal. Isso levou a Igreja a ficar preocupada com a possibilidade de muitos dos peregrinos não regressarem.
Igual preocupação surgiu em São Tomé e Príncipe. A organização episcopal local procurou, por isso, prevenir a possibilidade de alguns jovens quererem ficar em Lisboa, preparando-os para a viagem.
Autoridades portuguesas desdramatizam
Tiago Antunes, secretário de Estado português dos Assuntos Europeus, admite que há muita apetência pela Europa , mas minimiza o recebimento de uma eventual comunhão em massa de jovens de África que participaram na JMJ.
“Nem de África nem de outras partes do mundo. Também não fazemos essa diferença”, disse Antunes, afirmando acreditar que o objetivo dos jovens, quer virem de países pobres ou ricos, é compartilhar experiências. “E é com isso que estamos a contar e não com fenômenos de imigração em massa. Não é de todo isso que esperamos. Não antevemos grandes reclamações a esse nível”, insistiu o responsável.
A deslocação a Lisboa de jovens peregrinos com mais dificuldades financeiras, nomeadamente de África, contorno com o apoio de um fundo de solidariedade criado pelo Vaticano, segundo o Comité Organizador da Jornada.
Em declarações à DW África, o presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude e Bispo Auxiliar de Lisboa, D. Américo Aguiar, prefere realçar o espírito deste movimento.
“Sonhadores, lutadores e poetas”
“O Papa Francisco pede que os jovens sejam sonhadores, lutadores e poetas. Nós temos o hábito de dizer que os jovens são os homens de amanhã, do futuro. Não, não, são de hoje. E por isso temos que ouvir os seus gritos , ouvir as suas preocupações e aquilo que é a sua sensibilidade perante tantos problemas”.
É este o espírito que traz para a Jornada em Portugal, disse Aguiar, acrescentando esperar que a jornada possa ser uma oportunidade para que sejam ouvidas as preocupações dos jovens pelas muitas dificuldades que enfrentam nos seus países.
Kedy Santos, jovem ativista natural de São Tomé, vive no concelho de Loures, um dos palcos da Jornada, que também vai acompanhar. A sua expetativa é que, para lá da fé, os jovens debatem temas como o desemprego, a educação e o ambiente, a pensar no seu futuro. Mas não só: “E que também pode discutir questões essenciais como a questão climática, a questão do desenvolvimento sustentável e de equilíbrio econômico, questões como a distribuição da riqueza, para que possamos ter países subdesenvolvidos a emergirem, para que possamos ter um planeta mais igualitária”.
Ivan Petersburgo, jovem moçambicano também inscrito na jornada, espera colher daqui bons ensinamentos na interação com os outros peregrinos. Mas também Petersburgo vê uma oportunidade para debater o que considera ser temas primordiais no seu país: “Principalmente a questão da saúde e a questão do desemprego”.
Portugal aguarda cerca de 67.000 peregrinos vindos de mais de 120 países e cinco continentes para a Jornada Mundial da Juventude. De África destacam-se como presenças dos cinco países lusófonos, mas também viajaram até Portugal jovens do Brasil e de Timor-Leste.
Fonte: DW