Líderes da Frente Patriótica Unida (FPU) consideram “utopia” discurso do MPLA de que a oposição terá uma “derrota estrondosa” nas eleições gerais previstas para agosto em Angola. “O povo está o mostrar o que vai fazer”.
A Frente Patriótica Unida (FPU) – plataforma política liderada pela UNITA, Bloco Democrático e o PRA-JA Servir Angola – realizou este sábado (30.04), passeatas em Talatona e Cacuaco, dois municípios de Luanda, onde os eleitores foram mobilizados para o voto.
O acto aconteceu no mesmo dia em que o partido no poder, MPLA, também realizou um ato político de massa na capital angolana e em outras regiões do país.
A força política que governa o país há 46 anos tem estado a propalar que a oposição sairá humilhada no próximo pleito eleitoral, apesar do alto índice da contestação da oposição.
Mas o presidente da UNITA e coordenador da FPU, Adalberto Costa Júnior, diz que o MPLA não tem hipóteses de sair com a maioria absoluta nas eleições deste ano.
“Estas declarações mostram o quão não democráticos são quem os fazem. Nem sequer estamos em campanha, mas já se está a anunciar o que estão a montar. Mas o povo está o mostrar aquilo que vai fazer. ‘Oitenta por cento’ que estamos ouvir, humilhação do adversário, isso é para quem não tem cultura democrática. Não é possível. O angolano sabe que não é possível e vamos provar que não é possível”, garante.
MPLA “com medo” do resultado
Respondendo à “provocação” do líder do MPLA, João Lourenço, – que em Cabinda disse que a oposição terá de treinar muito para “marcar golos nas eleições” -, Adalberto Costa Júnior diz que a oposição que lidera já dá “goleada” há muito tempo.
Adalberto Costa Júnior acusa ainda o MPLA de estar com medo do resultado real dos votos dos angolanos e dá como o exemplo a proposta de Lei de Sondagens e Inquérito de Opinião, que proíbe inquéritos durante a campanha eleitoral e durante a votação.
“Veja o pânico, o uso dos tribunais e a necessidade de estragar o jogo. A pouca-vergonha que faz adormecer o cidadão, dos conteúdos daquilo que é público, que se emite todos os dias e há muitos anos. Quando se recorre a estes níveis de tratamento igual, está tudo dito. Vejam as sondagens. Vejam o que é que a Assembleia Nacional está a preparar. Proibir sondagens. Porquê? Porque todas aquelas que são à boca do povo estão a determinar quem vai à frente. Portanto, estamos tranquilos e vamos fazer o nosso trabalho”, sublinha.
“O cidadão sabe o que quer”
O político Abel Chivukuvuku, do projeto PRA-JA Servir Angola e coordenador adjunto da FPU, diz que a liderança da plataforma política vai continuar a contactar os eleitores para ouvir as suas expectativas e transmitir mensagens de esperança.
“Não transmitimos mensagem de vitória. Transmitimos mensagem de fé e esperança. O cidadão sabe o que quer. Aqueles que pensam que a vida deles está boa, então votem na situação. Quem pensa que precisa de mudança porque a vida vai mal, vota na Frente Patriótica Unida”, disse Abel Chivukuvuku.
A passeata da plataforma política que junta três organizações da oposição não teve a cobertura da Televisão Pública de Angola (TPA), órgão de comunicação social que tem sido acusada de censurar a UNITA e o seu líder.
O presidente do galo negro reitera diálogo com as instituições do Estado angolano para que o processo eleitoral decorra no clima de tranquilidade e de paz.
“Vamos fazer tudo para que assim seja até às eleições. E vamos ajudar o MPLA a melhorar o ambiente democrático, porque nunca como hoje, abordámos eleições completamente à margem de tratamento igual. Mesmo assim, vamos manter o diálogo permanente, vamos educar permanentemente e vamos provar que as imagens artificiais ficam muito aquém das multidões que nos vão acompanhar”, garantiu Costa Júnior.
“Discurso de desespero”
Por sua vez, o vice-presidente do Bloco Democrático, partido que integra a FPU, Justino Pinto de Andrade afirma que o partido no poder está “desesperado”, por isso faz discursos antecipados de vitória.
“O discurso do presidente João Lourenço, presidente do MPLA, é um discurso de desespero. Ele sabe muito bem que cometeu uma série de erros e que vai ser castigado por causa disso. Por isso, fez este discurso de grande otimismo, mas que esconde na realidade um grande medo”.
“Alternância” foi a palavra de ordem na passeata que decorreu este sábado nos municípios do Talatona e de Cacuaco, que contou com presença massiva de populares, entre os quais, vendedoras ambulantes.
Maria João, que vende água mineral e refrigerante, diz estar cansada de enfrentar dificuldades para o sustento da família, por isso apoia a alternância política em Angola.
“Todos os dias os fiscais levam o nosso negócio. Assim vamos comer onde? Este ano o MPLA tem que sair”, apelou a jovem.
Cerca de 14 milhões de eleitores estão aptos para participarem nas eleições no próximo mês de agosto, segundo dados do Ministério da Administração do Território e Reforma que organizou o Registo Eleitoral Oficioso. As eleições vão ser convocadas em maio pelo Presidente da República de Angola, João Lourenço.