• 1 de Dezembro, 2024

Mbanza Hanza: “Sociedade Civil está sem agenda, assim como os Partidos Políticos…”

 Mbanza Hanza: “Sociedade Civil está sem agenda, assim como os Partidos Políticos…”

Afonte conversou com o activista Mbanza Hanza. Durante a entrevista falamos sobre partidos, sociedade civil, Angola e outros temas. Aconpanhe a interessante e suculenta conversa:

Afonte – Afonte sabe que está num novo projecto da sociedade civil denominado “ALI”. Que isso significa?

Mbanza Hanza (MH)  – O Acto Litigativo Inclusivo ou Projecto ALI é um projecto da Sociedade Civil de mediação inclusiva para a resolução de conflitos. Está concebido para actuar em várias esferas e domínios da vida social, política, cívica e cultural dos Estados Africanos litigando conflitos.

Afonte – E quais são as fases deste projecto?

MH – O Ciclo de Actuação do Acto Litigativo Inclusivo obedece a quatro etapas: INFORMAÇÃO, MONITORIA, NOTIFICAÇÃO E INTERVENÇÃO. INFORMAÇÃO: é a fase dedicada a educação e sensibilização dos actores envolvidos. A informação varia de acção para acção: acções ligadas às eleições, como na “Operação Jogo Justo 1.0”, acções ligadas às vacinas contra a Covid-19, como no “Manifesto contra a Vacinação Obrigatória” ou ainda à “Quota Parlamentar da Sociedade Civil” e a “Nomenclatura” que são ambos actos em preparação. A informação e respectiva educação irão variar de acordo com o acto em execução bem como a legislação a usar.

MONITORIA: é a etapa de observação da performance dos actores e sua actuação depois de informados e formados ou, presumindo que vivemos em sociedades regidas por leis e princípios aos quais nos submetemos a todos, monitoramos a acção dos actores sociais, políticos e demais outros.

NOTIFICAÇÃO: é o acto de intimação ao actor directamente envolvido no processo por um ou vários actos por si despoletados. A notificação pode acontecer por uma irregularidade, um atropelo ou algum excesso praticado pelo actor ou quando constitua uma boa prática, uma prática a estimular aos demais actores a seguirem. INTERVENÇÃO: depois de notificado por acto, irregularidade ou atropelo por si praticado e o actor persiste nele, isto despoleta a intervenção. Ela configura uma acção correctiva concreta. A intervenção pode ser directa ou indirecta. É directa sempre que implicar a actuação directa do Projecto ALI. É indirecta quando o Projecto ALI acciona ou notifica as instituições públicas do Estado afins para intervenção, outros actores sociais ou instituições internacionais estabelecidas para o fim que se pretende.

Afonte – Com quem trabalha?

MH – O Projecto ALI conta com voluntários. A maioria se constitui em cidadãos que se tenham sentido atraídos por um acto interventivo ou de informação levado a cabo pelo Projecto. A «Operação Jogo Justo», por exemplo, cativou perto de uma dezena e meia de jovens e o «Manifesto contra a vacinação obrigatória» veio praticamente quadriplicar este número e assim vai crescendo a base de voluntários do Projecto ALI.

Afonte – Quem são as personalidades ou instituições que serão alvo de fiscalização desta iniciativa?  

MH – Como pode ver pela filosofia de trabalho e actuação do Projecto ALI, não existem instituições ou personalidades pré-definidas como alvos da acção. Em grande parte, as próprias instituições ou personalidades fazem-se alvo pela sua actução, pelos actos que vão despoletando na prossecução do seu objecto social ou político. Algumas das acções do Projecto são reactivas e é praticamente impossível prever a que instituição o Projecto irá reagir. Tomemos o caso da Comissão Multissectorial de Prevenção e Combate à Covid-19, estava longe de cogitação haver uma acção que a visasse, mas acabou sendo, com o Manifesto anti-vacina. A julgar pelas acções em carteira, a “Quota Parlamentar da Sociedade Civil” irá pôr a Assembleia Nacional e o Tribunal Constitucional na “mira”. A “Nomenclatura” irá articular com três ministérios: Justiça e Direitos Humanos, Cultura e Educação. Vale lembrar que o Projecto ALI é uma instituição litigativa e não combativa. Quando uma instituição se torna alvo do ALI não é para a combater “Nós Intervimos conjuntamente!” é o nosso slogan. O nosso foco é sempre informar, acautelar a necessidade ou desnecessidade de uma determinada medida, acto ou legislação e solicitar uma acção da parte da Instituição visada. A intervenção do ALI é sempre a última rácio e o ciclo de actuação deve envolver sempre o “alvo” ou “vítima” da actuação do Projecto.

Afonte – Este é mais um projecto ou se pode esperar alguma coisa que possa contribuir para o processo democrático angolano?

MH – Não é só mais um Projecto, é uma excelente ferramenta de contribuição que está à disposição de todos: instituições, partidos políticos, academia, organizações cívicas ou pessoas singulares para a consolidação do processo e Estado Democrático angolano.

Afonte – A retirada dos cartazes do MPLA com dizeres como “2022 JLO reeleito” é resultado deste projecto?

MH – Sim. Foi um acto da Operação Jogo Justo 1.0 que “é uma operação que visa monitorar, educar e mediar a acção dos actores políticos, cívicos e sociais durante o período eleitoral. O seu escopo temporal vai desde o período de Pré-Pré-Campanha Eleitoral até a realização das Eleições Gerais de 2022. Visa informar e formar os actores eleitorais e demais envolvidos sobre o Jogo Justo Eleitoral, bem como corrigir as irregularidades ligadas ao material propagandístico eleitoral afixado antes dos prazos legalmente estabelecidos para o efeito”, conforme se lê no seu prospecto.

Afonte – E isso lhe custou um processo. Ou seja, o MPLA, o partido no poder, apresentou uma queixa ao serviço de Investigação Criminal (SIC) onde foi ouvido no dia 02 de Dezembro de 2021. Sente-se intimidado?  

MH – Sim. O partido MPLA abriu-nos o processo n.º 3062/021-05, diante do SIC, Direcção do Combate ao Crime Organizado. Se me sinto intimidado? De jeito nenhum. É um proceder normal dentro de um Estado que se quer Democrático e de Direito. A referência ao “de Direito” remete às leis, ou seja, todos os conflitos que surgirem dentro de um Estado Democrático de Direito, devem ser dirimidos com base a Lei, recorrendo as instituições estabelecidas para este fim e não à vontade pessoal. O MPLA sentiu-se lesado com a intervenção do Projecto ALI e abriu um processo-crime, uma acção muito normal e ainda bem que foi assim. Precisa-se evoluir para este nível.

Afonte – Muito se diz sobre si, sobretudo nas redes sociais. Há inclusive quem diga que foi comprado pelo MPLA. A ser verdade, quanto custou a sua venda?

MH – O Hanza é uma referência incontornável na arena política, cívica e afrocêntrica de Angola e por ser assim, despoleta vários sentimentos, incluindo ciúmes, inveja e raiva. Muita gente gostaria de ser e estar no meu lugar, vezes sem conta me vieram dizer que não estou a aproveitar bem o momento que estou a viver agora; quer dizer, eu devia facturar com a minha projecção “tudo tem fim, hoje estás nos holofotes, mas amanhã já não.” Do outro lado há o número dos que vêm em mim um vendido! É um paradoxo (risos). Bem, o que as pessoas pegam para dizer que o Hanza foi comprado é o concurso de acesso à habitação por meio de Renda resolúvel no INH – Instituto Nacional da Habitação, intermediado pelo CPJ em 2019. Tudo de desinformação derivado deste processo é mera má fé e uma vontade irrascível de destruir a imagem e reputação do Hanza à todo custo. Os ataques vêm um pouco de todos lados, dos revús, dos partidos políticos, da família panafrikana, de indivíduos, amigos e ex-amigos, etc. é uma coordenação de esforços para tentar parar o Hanza a todo custo. Só que isso vai redundar sempre num esforço para tentar alcançar o vento, eu não estou nisso para competir, então perdem o seu tempo me combatendo ou aspirando ser eu. A verdade clara e simples é que a questão aqui não é e nunca foi a venda, pois isso nunca houve e todos sabem. A questão aqui é o Hanza. Eu sou até ao momento o único “revú” realmente em ascensão, fiel aos ideias traçados empírica e instintivamente em 2011. Sou aquele que continua a ser assunto de muita conversa, amor e ódio, cobiçado e combatido. Que vai abrindo estradas onde era impensável revú chegar: assumi pública e abertamente em cadeia nacional que vou substituir o MPLA, ou seja, sou o Futuro Presidente de Angola, já tinha feito algo similar em 2016, ao ter sido o primeiro depois de 4 a dizer em tribunal quem era o ditador. Abri a porta do Jornal de Angola e da TV Zimbo. Sou um dos protagonistas da remoção dos cartazes de propaganda do MPLA já referidos, em hasta pública e à luz do dia, coisa que alguns revús cogitaram fazer, mas algo os traiu. Sou a primeira individualidade a quem o MPLA como instituição abre um processo-crime. Continuo apartidário mesmo com o desafio da Presidência que assumi e uma CRA que afunilou as coisas aos partidos políticos. Muitos dos antigos revús não precisaram de muito, bastou que Adalberto Costa Jr. se tornasse presidente da UNITA para deitarem fora o princípio apartidário. Outros tiveram promessa de assento na Assembleia. A maioria dos revús estagnou num loop em termos de acção cívica, continuam a fazer exactamente aquilo que fazíamos em 2011 e a esperarem resultados diferentes, é a crise de inovação que enferma muitos. De volta ao assunto da casa, só pode ser mesmo uma questão de ódio e vontade de me destruir a todo custo. Tome aqui 4 pontos: PRIMEIRO: natureza do concurso. Tanto o contrato bem como a carta que foi tornada pública ainda em Novembro de 2020 pela Joana Clementina diziam claramente que se tratava de um concurso onde as casas seriam pagas por meio de Renda resolúvel e isso muito antes de haver Joana Clementina e o assunto na net. Se sem a net, quando ainda era um assunto privado estávamos a falar em renda resolúvel, é porque é isso que ele realmente é: “Assim sendo, para evitar conflitos e contradições dentro do grupo dos activistas, vimos por meio desta apresentar uma lista mais consentânea, mais abrangente e menos conflituosa de candidatos ao acesso ao Projecto Habitacional Vida Pacífica “Zango Zero”, POR MEIO DE RENDA RESOLÚVEL” in “Informação relativa a Candidatura – Habitação Vida Pacífica”, carta escrita a 24 de Maio de 2019 e enviada ao CPJ com o anexo da lista de 100 nomes. Carta ao CNJ, 24 de Maio 2019 “INSTITUTO NACIONAL DE HABITAÇÃO CONTRATO PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE HABITAÇÃO EM REGIME DE PROPRIEDADE RESOLÚVEL.” in contrato da casa. Como se pode ver, tanto em 2019, como em 2021 no contrato, fala-se da mesma coisa “renda resolúvel”, “candidatura”, “contrato promessa.” Como todas essas referências podem ser confundidas com venda e ser-se comprado? Só isso já seria suficiente, mas como é a pessoa que está na mira e não o acto, já vemos. Uma vez que a carta é de Maio de 2019, a informação que muito se veiculou de que foram essas casas que custaram a vida de Inocêncio de Matos é absurda, como é que se pode associar um acto de Maio de 2019 com outro de 11 Novembro de 2020, um ano e meio depois? SEGUNDO: os decretos Presidenciais. O primeiro é o decreto Presidencial n.º 278/20 de 26 de Outubro que veio estabelecer o “Regime Geral de Acesso às Habitações Construídas com Fundos Públicos”, que como se pode ver pela sua natureza é um decreto criado justamente para arbitrar sobre o destino das habitações recuperadas dos Marimbando construídas com fundos públicos “proporcionando assim a justiça e a igualdade de direitos e de oportunidades conforme consagrado na constituição” conforme se lê no preâmbulo do Contrato Promessa. O Segundo é o Despacho Presidencial n.º 119/21 de 17 de Agosto publicado em Diário da República do mesmo dia, n.º 155 que diz: “Havendo a necessidade de reabilitar um conjunto de edifícios habitacionais localizados na Urbanização Vida Pacífica, Município de Viana, Província de Luanda, que por via do Processo de Recuperação de Activos são parte integrante do património privativo do Estado e que foram severamente vandalizados; o Presidente da República determina (…) 1. É autorizada a despesa e abertura do Procedimento de Concurso Público para a adjudicação de Contratos de Empreitada e Fiscalização para a reabilitação de 21 (vinte e um) edifícios com 15 (quinze) pisos e 112 (cento e doze) apartamentos, sendo 10 (dez) edifícios com apartamentos de tipologia T3 e 11 (onze) com apartamentos de tipologia T4 na Urbanização Vida Pacífica, Município de Viana, Província de Luanda, no valor global de USD 2.200.00,00 (dois milhões e duzentos mil dólares dos Estados Unidos da América), equivalente em Kwanzas, por edifício.” Vou me vender por habitação cujas decisões para adjudicação, reparos ou reabilitações são tomadas ao mais alto nível do Estado e tem decretos públicos? TERCEIRO: as reuniões. A primeira reunião a que tive acesso e onde ouvi pela primeira vez sobre o concurso e os requisitos de adesão, encontro onde também conheci e vi pela primeira vez Isaías Kalunga, foi no dia 23 de Maio de 2019 na casa da Juventude em Viana, a sala estava cheia. Nesta reunião estiveram entre 100 a 150 jovens. Muitos dos 1026 jovens que hoje têm contratos e estão no processo, nem fazem ideia que houve uma reunião dessas, mas o vendido é o Hanza. A segunda reunião foi a que produziu a carta que já referi e que foi publicada pela Joana Clementina. Nesta reunião estiveram 20 revús, Hitler Samussuku, Alemão Francisco, Laurinda Gouveia, Nicolas Radical, só para citar algumas pessoas que tomaram posições públicas muito duras contra mim, estavam presentes e ditaram nomes para aquela lista de 100 que criou a polêmica toda. Contrato Promessa, INH QUARTO: o número de candidatos no processo. O processo envolve mais de 1026 pessoas, como é possível só o Hanza ser o vendido? A JURA, JPA, JFNLA, JURS e todas as demais juventudes partidárias estão, os Escuteiros, os Desbravadores da Igreja Adventista, o CIP, a Rádio Despertar e o Cláudio In um dos seus jornalistas mais famosos, a Brigada Jovem de Literatura, os Revús e, no processo os revús já somam 20 ou mais onde 15 deles foram liderados por mim; além de muitas outras organizações juvenis que não conheço. Se no meio de tudo isso a pessoa toma o Hanza como vendido ou comprado, das duas uma: ou ela é louca ou está com um extremo ódio e vontade irrascível de me atacar e me ver por terra a todo custo. Ora, muitos talvez digam, mas por que só vem falar disso detalhada e publicamente agora? Por que deixou passar todo esse tempo? Eu qui-lo assim. Há males que vêm para bem e este assunto das casas veio revelar-me coisas tão profundas que nunca saberia de outra forma. Muitas vezes somos tentados a pensar que temos muitos amigos, como eu sempre pensei e considerei, mas a verdade é que você apenas conhece muita gente e confunde isso com o ter muitos amigos. Por exemplo, se a proposta de 100 vagas fosse aceite, Hitler Samussuku, Alemão Francisco, Laurinda Gouveia e demais outras pessoas das 20 que estiveram na reunião de 24 de Maio e ditaram nomes àquela lista, ou até o Dito Dali que mesmo não estando na reunião cobrou-me pela “exclusão” e o José o Próprio, seriam meus vizinhos. Quando o assunto veio a público muitos amigos e gente que se viu “surpreendida” com a lista me veio solicitar e à muitos dei a explicação que tendes aqui, com a excepção do contrato pois só foi assinado em Fevereiro de 2021. A maioria entendeu, outros continuaram com alguma pulga atrás da orelha. O meu grande irmão e companheiro de luta Luaty pediu-me «Hanza, publica isso, te garanto que vai tirar muita gente dessa confusão e explicar esse assunto», eu neguei a fazê-lo. E por que neguei? Quis que todos aqueles a quem falei que fossem eles a público, ainda que fosse só para dizer «falei com o Hanza e pelo o que me contou, não tem nada a ver» ou «pelo menos entendi…, vamos ver.» As organizações partidárias da Oposição como JURA por exemplo matariam (Reunião de 23.05.2019, casa da Juventude de Viana )

Reunião dos Revús, 24.05.2019 assunto se houvesse o mais simples pronunciamento do tipo «isto é processo normal de acesso à habitação, não tem nada de mais» até porque estão envolvidos, mas eu tive que confrontar o Bernardo Vandunem, membro da JURA no Sovsmo, no dia 23 de Janeiro de 2021, dia da Sexta-feira Sangrenta e perguntar-lhe porque vivia a fazer publicações constantes contra mim, a base diária praticamente, com a conta Dissete Setinho Vandunem sobre o «vendido das casas», num assunto que ele conhecia muito bem e a sua organização estava envolvida? É só para entenderem a dimensão da estupidez.

Afonte – Mas se não está vendido, porque está supostamente distante de outros activistas cívicos?

MH – Há duas coisas a diferenciar, estar distante dos activistas não significa estar distante do activismo, aliás, como se explicaria o facto de eu estar nos holofotes? As pessoas precisam entender que o Hanza é uma personalidade sui generis. Eu tenho a minha própria forma de caminhar, o problema é que muitos só estão a ver e conhecer o Hanza agora e elas já se doutrinaram sobre como fazer activismo, senão veja: O activismo esteve inactivo por quase 3 anos, de 2017 à finais de 2020 quando a Isabel dos Santos deu back à manifestação do panelaço em meados de Outubro daquele ano. Durante o período que citei não só a revuada, mas até a oposição política estava meio sem argumentos para atacar a governação de JLO. Ele foi muito esperto, pegou grande parte da agenda cívica e da oposição e pós em acção, ou seja, se antecipou e deixou praticamente o pessoal sem saber o que fazer. Eu, no entanto, não estive inactivo. Eu sofri na cadeia o mesmo processo de transformação que sofreram Malcom X, Fidel Castro, Muamar Ghadafi ou mesmo Hitler o nazista, ou seja, renascer. Eu entrei activista ou revú na cadeia, mas já não saí o mesmo, e, o que me fez renascer? Foi o livro “Minhas Estrelas Negras – de Lucy à Barack Obama” de Lilliam Thuram. Este livro me fez ver coisas que eu nunca tinha visto e nem imaginado em toda a minha vida até aquela altura. Me senti como se a Escola, as Instituições Sociais, Políticas, o Activismo, a Igreja e tudo resto me tivessem enganado por 30 anos. Saí praticamente com o balão do que veio a me cimentar como panafrikanista cheio. Eu não estava tão lúcido como estou hoje, tive o meu tempo de maturação, mas o bichinho despertado por Lilliam Thuram começou a governar a minha acção cívica e não demorou muito para que começasse a haver dissonância. O Activista Cívico ou Defensor dos Direitos Humanos e por extensão, todo ser humano africano “civilizado” não Afrocentrado, académico ou não é uma pessoa muito alienada e desorientada em termos de identidade e sentido de ser e, só sendo assim, ele pode se manter na sua posição ou luta. Se desperta ele entra em rota de colisão. Saímos da cadeia em Junho de 2016 e de lá até Agosto de 2020, altura que nasce o Futuro Presidente, o Hanza não se manteve inactivo e nem calado. Só que é muito difícil para um Activista Cívico ou Defensor dos Direitos Humanos e todo ser humano africano “civilizado” não Afrocentrado entender essas coisas, especialmente quando mentaliza que activismo é ofender o MPLA e qualquer servidor público especialmente preto, dizer sim à oposição e não ao MPLA, gritar ditadura e JES, MPLA ou JLO fora! Ao revú não ocorre, por exemplo, a possibilidade de considerar que talvez o maior violador de Direitos Humanos, Democracia, transparência e boa governação; que as organizações mais corruptas do planeta talvez sejam justamente as União Europeia, FMI, ONU, Banco Mundial, Comonwealth, NATO, ONGs e todas as demais organizações chamadas internacionais, que se constituem em instrumentos de actuação do racismo e supremacia branca, atraso do continente afrikano e de qualquer outra parte do mundo não branco, Europeu ou Ocidental. A 06 de Janeiro de 2018 eu tomei a decisão de renascer para Áfrika, eu disse num textão publicado na minha conta de Facebook naquela altura: “Hoje dia 06 de Janeiro de 2018 renasce um homem. A grande multidão dos meus amigos conhece o M´banza Hamza, o activista, defensor dos direitos humanos, articulista, professor primário, antiditadura e injustiças sociais. Este M´banza ora incômodo, ora inspirador. (…) Entre acidentes, descasos, premeditações e impulsos, vou tentando elaborar um caminho, uma resposta, uma linha. A medida que o tempo segue e os fenómenos avolumam-se, uma tímida conclusão vai-se desenhado e ela parece dizer-me que antes de mais nada e acima de tudo é preciso construir “Um Lugar No Mundo.” O Hamza vai deixar de homenagear esse grande guerreiro [árabe] para assumir uma missão e esta missão vive em “Hanza, Ha Nza ou Va Nza” no mundo-muntu. Por que? Por que “Havemos de voltar” onde as coisas “Malungana|Milunga” e talvez sem muito esforço porque muito cedo “Mayenda” e o que buscamos nesta caminhada toda é simplesmente um “Mbanza Va Nza – Um Lugar No Mundo.” Afrika deve fazer Sankofa e este é o meu contributo para este regresso. Sei que é um regresso sem grandes escurecimentos ainda, com muitas incertezas e temores a mistura, o futuro ainda está cerrado de nuvens que não permitem vislumbre. Mas é nesta amálgama que eu decido Renascer. Já honrei heróis, lutei e ainda lutarei com muitos deles ao meu lado, mas a vida chama-me para mais um desafio, por isso eu renasço hoje para África com o epíteto de “O Lugarista – Um lugar no Mundo.” O Lugarismo é pan-africano, afrocentrado e sankofista, sob as hostes do Ubuntu!” Com este renascer e declaração, estava a deixar a forma de fazer activismo tal como vinha fazendo desde 2011, pois entendi que eu preciso de firmar “O Lugarista – Um lugar no Mundo” e no activismo que vinha fazendo, não havia como realizar esse desiderato porque “o Lugarismo é pan-africano, afrocentrado e sankofista, sob as hostes do Ubuntu!” Porém, é possível traçar um gráfico do meu percurso ao longo deste período até agora Janeiro de 2022. Em finais de 2016, digo Novembro/Dezembro, o Dr. Luís do Nascimento convidou-me para sentarmos e gizar ideias com o fito de criarmos alguma plataforma que não sabíamos se política, social ou cívica. Estendeu o mesmo convite a João Faria, os três nos encontramos durante uma semana e eu e o Dr. Luís concordamos em criar uma associação, o João pensou numa organização política, quando as suas ideias não vincaram, ele abandonou o “Grupo de Reflexão.” Com as coisas um pouco mais claras entre nós dois, estendemos o convite ao Dr. Marcolino Moco, Alexandra Simão Mário Paiva e Luaty Beirão. Essa conjugação de cérebros produziu em Junho de 2017 a Associação HANDEKA, cujos outorgantes são Manuel Ngangula e eu. Em finais de 2017, Dezembro, com o Panafrikanismo num crescendo, idealizei a CLAC Cívica, onde CLAC vinha de “Cidadania e Lutas em Angola e no Continente”. É uma organização que idealizei que fizesse uma luta cívica que abrangesse o continente Afrikano. Em Abril e Maio de 2018 a CLAC Cívica foi responsável pela realização de duas vigílias e a 26 de Setembro de 2018 liderou a marcha contra o racismo praticado pelo restaurante Del Mar contra Hossi Sonjamba na Ilha de Luanda. Samussuku foi o designer da CLAC. Como disse acima, renasci em Janeiro de 2018 e o activismo estava cada vez mais a dissonar comigo. Em finais de 2018, Outubro/Novembro fui convidado pelo Isidro Fortunato para contribuir na criação/alavancar do Projecto Ubuntu. Este convite chegou bem à hora, o Projecto Ubuntu se mostrou como uma luva à mão, pelo nível de lucidez panafrikana que ia alcançando. Neste período, na HANDEKA estávamos a preparar a Conferência Nacional sobre Educação, que me levou a produzir um manifesto contra a visão de Escola para o Século 21. O ano de 2019 começou com o protesto mais audaz alguma vez convocado em Luanda, que ficou conhecido como o “Ponto 3” que ditava a «caça aos portugueses em Angola» para fazer-lhes o mesmo, se os actos de racismo protagonizados a 19 de Janeiro no bairro da Jamaica em Lisboa, continuassem. A coordenar este protesto estavam comigo o Nuno Dala, Benedito Dali, Xitu Milongo, Fanuel da Gama, Dádiva Francisco, Disa, Luís Paulo e demais outros. O crescendo dissonante entre o Muntu e o activismo cívico era cada vez mais intenso que tive que abandonar a HANDEKA em Fevereiro de 2019. Em Dezembro de 2019 no entanto, criei o Instituto SANKOFA, uma Instituição panafrikana de ciência e tecnologia baseada no Sistema Mandombe, agora afecta à Associação de Estudos Afrikanos Sankofa que se dedica aos Estudos Afrikanos através do princípio Sankofa; depois de em Abril de 2018 ter cruzado com a preciosidade do Mandombe, que veio dar um sentido de plenitude ao meu processo de renascimento e autoafirmação Muntu. Em Março de 2019 desenvolvi a Fonte SKN Mandombe, que permite escrever Mandombe em computadores. A 26 de Agosto de 2020 teve lugar o diálogo com o Presidente JLO que vocês já conhecem e nasceu o FPR. Em finais deste ano de 2020, Novembro/Dezembro, começam as dinâmicas que levaram a criação do que veio a ser o ANGOLA Primeiro em Janeiro de 2021. Para fechar 2021, em Setembro, novas dinâmicas resultaram na criação do Projecto ALI, mote desta entrevista. O Projecto ALI é a única organização angolana, quiçá, da região, que não só se colocou contra a vacinação obrigatória, bem como produziu um profundo Manifesto para elucidar sobre a agenda de controlo global expressa numa terapia genética experimental introduzida sob a batuta da Pandemia da Covid-19, suas vacinas e todas as medidas restritivas com ela convergentes. Não só isso, mas o fim de 2021 marca o somar de todas as dinâmicas iniciadas desde finais de 2016 com a HANDEKA ao Projecto ALI em Setembro de 2021; dinâmicas de renascimento, cívicas, identitárias e culturais, passando pela Ciência Mandombe ao Muntu conectado à Ancestralidade, desembocando na Komunidade! Assim, quando me perguntam sobre o afastamento, eu pergunto, eu afastado ou vocês é que não querem ver?

Afonte – Já agora, acha que a sociedade civil (activistas) está no “bolso dos políticos da UNITA e do MPLA” como se diz a boca pequena?

MH – A Sociedade Civil está sem agenda, assim como estão os próprios Partidos Políticos, um pouco desde a sua fundação.

Afonte  – Em que “bolso” o Mbanza está?

MH – O Mbanza não cabe no bolso de ninguém, nem mesmo dos ocidentais que controlam e governam os nossos governos e seus políticos, quer estejam no poder ou na oposição. O Hanza é de quem se espera!

Afonte – No ano passado, num encontro entre o presidente João Lourenço e a juventude angolana, Mbanza Hanza disse que seria o Chefe de Estado angolano. Reitera essa ideia?

MH – Disse acima que “o Hanza é de quem se espera”, logo ser Chefe de Estado é parte deste desiderato.

Afonte –  Mas como será presidente se a constituição não prevê candidaturas independentes. Vai fundar partido ou será cabeça de lista de um partido ou coligação?

MH – Em Outubro de 2021 me foi feita esta mesma pergunta com a incidência na fundação de um partido político, eis como respondi: “A palavra partido como adjectivo, deriva do verbo partir, que quer dizer «aquilo que está dividido em partes, quebrado ou fragmentado.» A partir daqui podemos perceber a essência da mesma como sendo algo partido, que não funciona. Nós é que continuamos a insistir nela porque nos focamos apenas no aspecto dela como substantivo masculino, que remete, segundo AURÉLIO 2004, a «Organização ou Associação de pessoas unidas pelos mesmos interesses, ideais e objectivos cujos membros programam e realizam uma acção comum com fins políticos ou sociais.» Mas, como afrikanos, nos apegamos muito mais a ela porque: 1. Nos esquecemos de nós mesmos; 2. Nos acomodamos no adestramento e mendicidade; 3. Temos medo e extrema insegurança em criar coisas novas. Tudo isso é parte do sistema de dominação Ocidental. São caixinhas onde entramos para sermos dominados. Eu quero construir uma nova Áfrika uma nova Angola, eu quero meter o meu povo no PODER de novo. E isso não é possível com coisas partidas, com visões políticas emprestadas, línguas, epistemologia e tudo mais, emprestado. Sabe por que o nosso país e continente não mudam, não andam? As pessoas vão para contribuir no vazio indo elas próprias vazias também. Tudo deve ter sempre uma Base Cultural e não hás de encontrar em nenhuma das 12 culturas indígenas de Angola a palavra ou mesmo a ideia de partido. Assim, nós criamos partidos para governar que povo?! Do Porto em Lisboa ou de Londres no UK?! Revisar, ousar e inovar é ali onde reside o verdadeiro domínio. Quem só imita é estrume daquele que cogita! Se eu me vir forçado a ter que me render e criar um Partido Político, fiquem a saber que 90% da agenda não será minha! Mas como vocês amam sofrer, irei para dar o meu contributo ao vosso sofrimento!”

Afonte  – O que é que Mbanza traria de novo no mosaico político angolano para ser presidente?  

MH – Eu traria a política. Tudo o que os afrikanos fazem até hoje é serem meros papagaios, imitarem e evitarem a todo custo serem quem devem ser. Nós fomos interrompidos em 1491 e eu vou retomar a partir daí.

Afonte – As eleições gerais em Angola estão quase às portas. Prevê um escrutínio livre, justo e transparente?

MH – As eleições aconteceram há dois anos atrás. É quase sempre assim na maior parte de Áfrika onde Angola não foge a regra. Países com muitos recursos naturais em Áfrika há duas coisas que estão proibidos de ter: um governo e eleições. Se há alguma coisa que devíamos fazer como povo é nos conjugar para reflectir profundamente e avaliar se vale mesmo alguma coisa continuarmos neste jogo, neste embuste, neste compromisso que vem assaltando e nos atrasando há mais de 500 anos.

Afonte  – Que Angola teremos nos próximos tempos?  

MH – Só depende de nós. Se continuarmos a achar que pode haver oposição entre povos de uma mesma raça, de um mesmo continente e de um mesmo território, continuaremos a girar em círculos, reclamar de futilidades, lançarmo-nos acusações inúteis, ignorando sempre a variável que realmente pesa na equação. Desta forma, continuaremos a investir numa peleja absurda, onde quem se opõe se opõe para defender o Estado Democrático de Direito e quem desgoverna, desgoverna dentro do Estado Democrático de Direito. Porém, se aprendermos a pensar e decidirmos fazer diferente, governarmos o Mundo a partir de Angola, em 50 anos, ou seja, até 2072.

Afonte 

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