• 21 de Abril, 2025

Morreu Jorge Sampaio, o “prisioneiro da ansiedade por um futuro melhor”

 Morreu Jorge Sampaio, o “prisioneiro da ansiedade por um futuro melhor”

Lisboa ,08/05/2012 – Jorge Fernando Branco de Sampaio (Lisboa, 18 de Setembro de 1939) é um político português, terceiro presidente eleito na vigência da III República Portuguesa, entre 9 de Março de 1996 e 9 de Março de 2006.(Paulo Spranger/Global Imagens)

Jorge Sampaio morreu esta sexta-feira, aos 81 anos. O ex-presidente da República estava internado no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, desde o final de agosto, na sequência de dificuldades respiratórias.

Perdeu a liderança do PS para Guterres, derrotou Marcelo em Lisboa, foi ultrapassado por Cavaco nas legislativas e ultrapassou-o nas Presidenciais, sucedeu a Soares em Belém. Jorge Sampaio desempenhou os mais importantes cargos políticos em Portugal durante quase 30 anos. Nos restantes, que foram muitos mais, empenhou-se de forma total naquilo que começou a defender antes de sequer ter chegado à maioridade: a permanente preocupação com os outros.

Foi o Presidente da República mais vezes discretamente corajoso, o ex-chefe do Estado mais generoso e mais reservadamente interventivo, a personalidade política com saúde mais frágil e porventura também a mais culta. Homem de família, afetivo e afável, exigente e austero, Jorge Sampaio entregou-se à vida como um “prisioneiro da grande ansiedade por um futuro melhor”, como de si próprio disse em entrevista à RTP em 1992. Morreu hoje no Hospital de Santa Cruz, em Lisboa, onde estava internado há mais de uma semana com problemas respiratórios, a que se somavam várias batalhas ganhas contra um coração de válvula malformada. Tinha 81 anos e, ao contrário do que tantas vezes lhe apontaram, um percurso cheio de decisões claras, destemidas e muitas vezes solitárias, como convém a um “ser livre e incondicionável”. “Tomar posição foi coisa que sempre fiz. Quem o fez, custasse o que custasse, escolheu e não abdicou”, respondeu a Maria João Avillez, numa conversa em que a jornalista lhe perguntara se a vida dele fora feita mais de abdicações do que de escolhas.

A quem entende que Jorge Sampaio, lisboeta de gema criado em Sintra, foi essencialmente o homem dos discursos difíceis, o famoso sampaiês, que em 2004 interrompeu o Governo de Pedro Santana Lopes e que um dia disse que “há vida para além do orçamento”, há uma imensa e larga estrada que escapa. A timidez, a discrição, a elegância e possivelmente uma certa ausência de carisma aliada a um certo mau feitio colocaram-no sob um holofote de média luz que está longe de fazer-lhe justiça. Sampaio foi um guerreiro, humanista e um progressista. Era criticado quando, nos anos 60, dizia que “a democracia global tem que envolver também a democracia participativa e não só a representativa”. E quando “falava na cooperação com os novos países de expressão portuguesa”, acusavam-no de ser terceiro mundista. Posicionado à esquerda do PS desde sempre, buscou sempre consensos, com os pés no chão e olhos postos no futuro – e nos outros. “Há um movimento permanente na minha vida, é o de ter preocupações com aquilo que nos cerca.”

JN

Artigos relacionados