Redacção- Mais de três famílias que viviam no perímetro do novo aeroporto internacional, vão manifestar esta sexta-feira à entrada do empreendimento para exigir ao Presidente da República, a indemnização que nunca beneficiaram dois anos depois das demolições de residências na região.
O empreendimento que custou 2,8 mil milhões de dólares, é inaugurado hoje pelo Presidente da República, João Lourenço.
O projecto é aberto aos utentes com um pendente não resolvido. Trata-se da indemnização há mais de três mil famílias há quase dois anos vivem em situação precárias num acampamento localizado na aldeia de Ngolome, no distrito do Bom Jesus, município do Icolo e Bengo, em Luanda.
Após o desalojamento forçado, cada família recebeu do governo cinco folhas de chapas de seis metros para recomeçarem a vida.
Para a conclusão dos casebres onde estão abrigados, cada um usou o próprio dinheiro, contaram os moradores à Fonte.
“Quando o Governo fez o lançamento da primeira pedra, prometeram que teríamos uma recompensa que beneficiariam até os nossos bisnetos. Mas até aqui não estamos a ver nada”, lamenta Maria Sebastião, que perdeu uma casa do tipo T3 no perímetro do Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto.
Vida dura no meio do mato
No Ngolome as famílias estão atiradas à sua sorte. O bairro não oferece dignidade aos moradores. Não há energia elétrica e nem água potável.
A administração distribuí água das cisternas, más há semanas que os populares não têm acesso do precioso líquido.
A zona dispõe de infraestruturas sociais como escola e um posto médico. Mas a unidade de saúde não atende as necessidades da comunidade.
Do acampamento a via principal são cerca de dez quilómetros de terraplanagem. Não há transportes.
As motos de três rodas é a salvação da população, mas o preço da viagem é muito alto, dizem os habitantes que pagam 300 Kwanzas por cada viagem.
Para terem cuidados médicos os moradores vão de motorizadas aos hospitais da Vila de Catete ou de Viana.
Maria da Costa é uma das coordenadoras da comunidade.
” Se for de noite, é mesmo desenrascar ou vamos ao centro que temos para os primeiros socorros. Mas este centro não tem nada. Aí só dão receita para a população. Nunca tem medicamentos “.
Manifestação
A falta de condições sociais no acampamento e a não indemnização, as vítimas das demolições vão protestar hoje na entrada do novo aeroporto durante a cerimónia de inauguração.
A idosa Margarida José avisa que a comunidade não terá medo da guarda presidencial. O povo vai mesmo se manifestar.
“Ninguém pode intimidar o povo. Tem que deixar o povo falar porque o mais importante é resolver o problema do povo. Dia Vamos em massa lá na entrada do novo aeroporto e vamos ver o que vai acontecer aí”, alertou a idosa que perdeu casa e o seu campo de cultivo.
“Vamos sem armas. Não sabemos o que a guarda presidencial vai nos fazer, mas a verdade é que na sexta-feira estaremos na entrada do aeroporto “.
O Presidente da República autorizou, por decreto em Julho, a construção de 1500 habitações e as referidas infraestruturas para os antigos moradores do aeroporto. O projeto habitacional está avaliado em 75 milhões de dólares.
Este portal constatou no local que ainda não foram construídas dez habitações.
As mesmas não vão chegar para todos e estão a ser erguidas sem cumprir os padrões da construção civil.
Maria da Costa diz que o anúncio da inauguração do aeroporto casou tristeza aos cidadãos que vivem na indigência no meio da mata do Ngolome.
” Estamos tristes porque o aeroporto vai funcionar e a população aqui sofre nos casebres. Estamos no período da chuva e quando chove é sofrimento. Até agora só foram construídas sete casas. Quando teremos as nossas casas? Seria do aeroporto, chave na mão para casa”.