• 21 de Abril, 2025

Por que ocorrem golpes de Estado nas ex-colónias francesas?

 Por que ocorrem golpes de Estado nas ex-colónias francesas?

Líderes africanos em Adis Abeba.

A instabilidade política nas antigas colónias francesas da África Ocidental tem sido marcada por uma série de tomadas de poder militares. Desde 2020, os sentimentos anti-franceses parecem ter desencadeado, ou pelo menos contribuído para desencadear, golpes de Estado no Burkina Faso, na Guiné, no Mali e, mais recentemente, no Níger.

O advogado senegalês dos direitos humanos, Ibrahima Kane, da Open Society Foundation, disse à DW que os sentimentos que procuram separar-se da influência francesa são reais.

“A perceção que os franceses têm dos nossos cidadãos nunca mudou. Sempre nos consideraram cidadãos de segunda classe. Sempre trataram os africanos, particularmente os africanos francófonos, de uma certa forma. E a África Ocidental quer que essa situação mude”, disse.

Mas o analista de assuntos africanos, Emmanuel Bensah, especialista no bloco regional CEDEAO, disse à DW que os sentimentos anti-coloniais não explicam totalmente os recentes golpes de Estado na região.

“Tem havido uma questão colonial com os franceses e os britânicos na África Ocidental. Mas isso não significa que cada um dos Estados membros esteja a pegar em armas com soldados. Os países anglófonos não pegaram em armas e, no entanto, estamos na mesma sub-região”, afirmou.

Perder a esperança na democracia

Ao contrário da África anglófona, que tem atualmente um clima político relativamente estável, a democracia de tipo ocidental não ganhou uma base sólida na África Ocidental francófona.

“Nos países africanos francófonos, existe a sensação de que os franceses estiveram sempre ao lado dos detentores do poder, independentemente da sua popularidade. Há sempre uma ligação muito forte entre a França e o governo que, em muitas situações, não é muito amigável com a sua própria população”, afirma Ibrahima Kane.

Acrescenta que a mesma raiva está a ser dirigida aos governos democraticamente eleitos e apoiados pela França que permitem intervenções militares.

No Níger, milhares de pessoas reuniram-se para apoiar a junta militar que derrubou o Presidente Mohamed Bazoum, fazendo eco do descontentamento em relação aos governos democraticamente eleitos.

O analista nigeriano de governação, Ovigwe Eguegu, afirma que os líderes eleitos nas antigas colónias francesas pouco fizeram para melhorar a vida dos cidadãos.

“É por isso que temos estes golpes populistas. Estes são golpes populistas, temos de ser francos”, disse à DW.

Para Eguegu, se as pessoas não virem os benefícios de um governo democraticamente eleito, então haverá muito pouco apoio para eles em tempos de crise.

“Porque é que se hão-de envolver no exercício do voto e nada muda? Para eles, os [golpes] são vistos como uma forma de chocar o sistema para ver se isso pode levar a um resultado muito melhor”, disse ele, embora Eguegu tenha admitido que a liderança militar raramente melhorou a situação.

Bram Posthumus, um jornalista independente que trabalha na África Ocidental, coloca a questão de forma mais direta:

“Uma das coisas que estes golpes sucessivos demonstram é a noção bastante clara de que a experiência com a democracia de estilo ocidental no Sahel, pelo menos, foi um completo fracasso”, disse à DW.

Mas, nalguns casos, foram as lutas internas entre a classe política no poder que desencadearam estes golpes. Dias antes do seu derrube, o presidente deposto do Níger, Bazoum, terá planeado demitir o atual líder do golpe.

No Burkina Faso, desentendimentos entre soldados também desencadearam um segundo golpe, depois de os militares terem deposto o Presidente Roch Kabore num golpe de Estado em 2022.

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