O ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, chegou a Luanda. A notícia do seu regresso de Barcelona, onde se encontra desde 2019, agitou a cidade. Analistas questionam as suas intenções após protestos no sábado.
O regresso de José Eduardo dos Santos foi tema de conversa um pouco por toda a cidade de Luanda, esta terça-feira (14.09). O entusiasmo era notório tanto nas ruas como nas redes sociais
O jornalista e psicólogo Fernando Guelengue acredita que isso pode ter a ver com um certo saudosismo dos tempos de Eduardo dos Santos como Presidente, e com uma perceção diferente das dificuldades no país.
Quando Eduardo dos Santos esteve na Presidência, havia divisas em circulação, e problemas como o desemprego, que piorou com a pandemia da Covid-19, eram provavelmente menos evidentes. “A alimentação e muitas outras oportunidades ainda eram de fácil acesso”, comenta.
Mas, para o jornalista, o entusiasmo com o regresso de Eduardo dos Santos é um paradoxo. Porque Eduardo dos Santos não só “acabou por desgovernar o país”, como também “criou fidelidade com os oprimidos, aquelas pessoas que foram desgovernadas”.
MPLA vive momento difícil
Essa “desgovernação” terá ficado evidente com a entrada de João Lourenço na Presidência da República, em 2017.
“A governação experimentada de João Lourenço acabou por revelar todas as fragilidades do país, e, na tentativa de melhorar, através de um processo mais rigoroso de governação, também acabou por fechar o país a várias oportunidades.”
Agora, o partido no poder, o MPLA, está num momento de particular fragilidade, refere. Com o aproximar das eleições, no próximo ano, a insatisfação dos angolanos é cada vez mais evidente. No fim de semana, milhares de pessoas foram para as ruas de Luanda protestar por melhores condições de vida e por transparência eleitoral.
O jornalista Fernando Guelengue pensa que o regresso de Eduardo dos Santos pode ser uma estratégia do MPLA para fortalecer o partido antes do congresso dos “camaradas”, marcado para dezembro.
Reconciliação?
Desde 2017 que figuras próximas do ex-Presidente têm sido alvo de processos judiciais por alegada corrupção. É o caso dos filhos José Filomeno dos Santos e Isabel dos Santos, ou também do general Leopoldino do Nascimento “Dino”.
O politólogo Agostinho Sicatu concorda que poderá estar em marcha um movimento para a reconciliação interna no partido após a viragem de João Lourenço.
“Se convencerem José Eduardo dos Santos a aparecer no congresso e se, no congresso, se encontrar uma forma de estabelecer uma reconciliação entre as partes, automaticamente haverá unidade dentro do partido. O MPLA vai imediatamente fortificar-se. Deixará de ter as fissuras que tem, vai caminhar a uma só voz”, diz o especialista.
Será que José Eduardo dos Santos, chamado em Angola de “arquiteto da paz”, veio para ficar e regressa à vida política ativa?
“Se não vem para ficar, também deverá justificar eventualmente a sua permanência no estrangeiro. E seria bom que explicasse, fundamentalmente ao seu partido”, comenta Sicatu. “É importante retermos aqui que José Eduardo dos Santos não é uma pessoa qualquer. É uma pessoa que governou Angola durante 38 anos.”
DW