José Eduardo dos Santos está “triste” e “desiludido” com o sucessor, João Lourenço. A revelação é feita por Tchizé dos Santos, filha do antigo chefe de Estado, que diz que o pai quer ver Adalberto Costa Júnior no poder.
Tchizé dos Santos revelou em entrevista à DW África que José Eduardo dos Santos, antigo Presidente de Angola, está “desiludido” com as lideranças do MPLA e da Presidência da República, levadas a cabo por João Lourenço.
Tchizé sublinha que o pai “não tem nenhuma ligação” com o líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e nem financia o partido da oposição.
A ex-deputada do MPLA acusa também o actual chefe de Estado de tentar “apagar o legado do pai” e de piorar o estado de saúde de José Eduardo dos Santos, com perseguições políticas à família.
DW África: Tem sido bastante crítica em relação à atuação do Presidente da República de Angola, João Lourenço, relativamente ao estado de saúde do seu pai. Porquê?
Tchizé dos Santos (TS): O Presidente da República, [João Lourenço], tendo conhecimento de que a Dra. Ana Paula dos Santos não privava há mais de quatro anos com o Presidente emérito do MPLA, José Eduardo Santos, veio a público dizer que tinha telefonado à Dra. Ana Paula. Ontem (29.06) veio a público dizer que o estado do Presidente José Eduardo Santos se agravou. Com que autorização o Presidente João Lourenço vem a público falar da saúde, que é algo privado da vida de alguém, não sendo ele parte da família e não tendo ele mandato para falar em nome da família? Porque para ser Presidente da República não significa violar a lei vigente na República de Angola.
DW África: Qual é o estado de saúde do seu pai?
TS: José Eduardo dos Santos está vivo. Está vivo. Todos os órgãos do seu corpo estão a funcionar normalmente e há, de facto, uma questão neurológica. Mas uma pessoa que foi internada há quatro ou cinco dias é um paciente que ainda pode – sim senhor, pode sim senhor – viver muitos anos. Nós sabemos de vários casos de figuras que estiveram em coma vários anos. Alguns despertaram, outros não. E, em última instância, temos o caso de Michael Schumacher, que está há anos, anos e anos [doente] e que não morreu. Então porque é que querem desligar as máquinas? Para satisfazer o capricho de João Lourenço de ver morrer aquela pessoa que ele odeia e que ele quer destruir e ir triunfante dançar em cima do seu caixão? Isso eu não irei permitir como filha.
DW África: Neste momento tem acesso ao seu pai?
TS: Tenho acesso, estive com o meu pai ontem e o meu pai está vivo. A tensão arterial estava normal. Todos os órgãos funcionam e o meu pai não teve um ataque cardíaco. O meu pai não teve um AVC. O meu pai teve uma paragem respiratória devido a uma infeção respiratória que não foi diagnosticada pelo Dr. João Afonso, que não foi tratada por negligência.
DW África: Está a acusar o médico que cuidou do seu pai nos últimos anos de estar a piorar o seu estado de saúde?
TS: Já não é de agora que o Dr. João Afonso é suspeito de estar a deteriorar o estado de saúde do engenheiro Eduardo Santos. Desde o Dubai. Levaram o engenheiro José Eduardo Santos para Angola, para uma viagem de uma semana, e depois ficaram a impossibilitar a sua saída de Angola durante imenso tempo. Como é que o médico de família vê o seu paciente a perder 30 quilos e não informa a família? Nós não tivemos conhecimento, tem que haver uma investigação. Isto é um caso de polícia.
DW África: Das conversas que teve com o seu pai ultimamente, o que é que ele disse sobre a governação de João Lourenço?
TS: Esta conversa foi tida no dia 4 de abril de 2022, na altura em que eu li ao engenheiro José Eduardo dos Santos, meu pai, o discurso que o Presidente João Lourenço fez por ocasião da celebração do Dia da Paz, em que o engenheiro José Eduardo dos Santos ficou extremamente desiludido. Ficou triste. João Lourenço passa a vida a tentar apagar o legado de José Eduardo dos Santos e nesse dia o meu pai disse ‘É melhor que ganhe o Adalberto da Costa Júnior. Face a tudo o que eu tenho visto é melhor que ganha o Adalberto Costa Júnior’. Com muita tristeza, eu digo isto, porque o MPLA é o meu partido, mas eu pelo menos vejo que com o líder da oposição ainda se consegue dialogar, porque é um inteletual, tem uma maneira de estar mais ponderada. Com o general João Lourenço é impossível e eu estou a dizer isso porque não sei o que pode acontecer a qualquer um de nós. O que está a acontecer ao engenheiro José Eduardo dos Santos foi induzido, foi muito bem maquinado. Foi-lhe deteriorizada a saúde o máximo possível.
DW África: Teme pela sua integridade física?
TS: Eu só estou a dar estas declarações porque, sinceramente, ao ver o que está a acontecer com o meu pai e sendo eu a única outra política da família, eu temo pela minha vida e quero fazer questão de transmitir isso antes de que eventualmente me possa acontecer alguma coisa, que espero que não aconteça.