A visita do Presidente da República, João Lourenço, à província do Cuando Cubango ficou marcada por críticas e denúncias de intolerância política.
Terminou na sexta-feira (11.03) a primeira visita oficial do Presidente da República ao Cuando Cubango. “Eleitoralista” é o termo usado por muitos cidadãos para descrever a visita do chefe de Estado, avançou a DW.
Os benefícios da visita, segundo Ponciano Longenda Waya, residente em Menongue, são sobretudo os “milagres” que os governantes locais fazem para impressionar o chefe de Estado.
“Como vemos, a cidade está iluminada, está bonita”, mas a província não vive de intervenções paliativas, disse Waya.
A poucos meses das eleições gerais de agosto, a primeira visita oficial ao Cuando Cubango desde que João Lourenço tomou posse, em 2017, ficou também marcada por denúncias de intolerância política.
Activistas da sociedade civil revolucionária afirmaram que estavam a ser perseguidos pelo Governo, que teria tentado impedir a realização de uma manifestação sob o lema “O Cuando Cubango não é para vir buscar votos”.
“Para se prevenirem, acharam conveniente ir atrás de nós através dos órgãos de defesa e segurança”, denuncia o ativista Amadeus Lucas.
“Os polícias cercaram-nos. O que querem é deter-nos e, quiçá, largar-nos quando o Presidente da República se for embora.”
Desemprego e falta de estradas
Mesmo sem estas vozes de protesto, o Presidente João Lourenço ouviu as preocupações da população do Cuando Cubango. Em Menongue, a agenda incluiu várias audiências com representantes da juventude e líderes tradicionais que apontaram os principais problemas da província.
Por exemplo, o Cuando Cubango ainda não beneficia de um pólo universitário. Além disso, “o sonho da casa própria, o empreendedorismo e a [falta de] vias de comunicação” são outras questões que inquietam os jovens na província, afirma um representante da juventude, Miguel Tchissingui.
Os líderes tradicionais também foram ao encontro do Presidente para apresentar as preocupações do seu povo. Em nome de mais de 1.500 sobas, Manuel Ndala, Rei Mwene Vunongue VIII, mostrou-se preocupado com as condições sociais da população. Pediu um investimento na agricultura e que se passe da teoria à prática.
“Governação participativa”
As condições de vida da população estão também a preocupar o bispo de Menongue. Ao Presidente João Lourenço, Dom Leopoldo Ndakalako disse ser urgente que os projetos do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) tenham impactos concretos.
“Neste contexto, estamos com muita esperança de que aquilo que apresentámos ao chefe de Estado encontrará uma ressonância positiva, até porque as nossas preocupações também são preocupações do Executivo”, afirmou o bispo.
Ouvidos os problemas dos jovens e dos líderes tradicionais, está aberto o caminho para a “governação participativa”, segundo o ministro da Administração do Território.
“Sua Excelência, o Senhor Presidente auscultou com muita atenção, trocou algumas ideias e impressões com as preocupações apresentadas. As prioridades do Cuando Cubango serão aquelas todas aquelas que estão definidas no plano de governação”, frisou Marcy Lopes.
No primeiro dos três dias da visita ao Cuando Cubango, o Presidente angolano dirigiu o conselho de governação local, em que participaram os governadores das 18 províncias e ministros do país, que abordaram, entre outros assuntos, o registo eleitoral oficioso, que termina dentro de 20 dias, e o combate à pandemia da Covid-19.