• 29 de Novembro, 2024

Berlim: Uma conferência da desgraça africana

 Berlim: Uma conferência da desgraça africana

Assembleia Geral da União Africana em Adis Abeba, Etiópia (DR)

Por: Agostinho Sicato- analista político e politólogo

O destino do continente africano foi decidido por um grupo de ignorantes ao seu passado e à sua realidade, cujo objetivo era a manutenção dos seus interesses coloniais. As razões invocadas na acta geral de Berlim, assinada por estes, no dia 26 de Fevereiro de 1885, são factos insofismáveis. Invocam “querendo regular num espírito de boa compreensão mútua as condições mais favoráveis ao desenvolvimento do comércio e da civilização em certas regiões da África e assegurar a todos os povos as vantagens da livre navegação sobre os dois principais rios africanos que se lançam no Oceano Atlântico”, defendia a defesa dos interesses africanos.

Futuro africano adiado

Pelo contrário, estavam mais preocupados em “prevenir os mal-entendidos e as contestações que poderiam originar, no futuro, as novas tomadas de posse nas costas da África”.

Este grupo que adiou o futuro africano, era representado ao nível mais alto nomeadamente o anfitrião Imperador da Alemanha, Rei da Prússia – Otto Eduard Leopold von Bismarck, seu Presidente do Conselho dos Ministros da Prússia, Chanceler do Império – Paul Von Hatzfeldt, seu Ministro de Estado e Secretário de Estado no Departamento de Negócios Estrangeiros – Augusto Busch, seu Conselheiro Intimo de Legação e Subsecretário de Estado no Departamento dos Negócios Estrangeiros; e Henri de Kusserow, seu Conselheiro Intimo de Legação no Departamento dos Negócios Estrangeiros, Imperador da Áustria, Rei da Boêmia, e Rei apostólico da Hungria – Emeric, Conde Szhéchényi, de Sàrvàri-Felso-Videk, Camareiro e Conselheiro Intimo atual, seu Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto do imperador da Alemanha, Rei da Prússia , o Rei dos Belgas: Gabriel Augusto, Conde Van der Straten-Ponthoz, seu Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário junto do Imperador da Alemanha, Rei da Prússia, e Augusto, Barão Lambermont, Ministro de Estado, seu Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário; o Rei da Dinamarca; Emílio de Vind, Camareiro, seu Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário junto do Imperador da Alemanha, Rei da Prússia; o Rei da Espanha: Don Francisco Merry y Colom, Conde de Bonomar, seu Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário junto do Imperador da Alemanha, Rei da Prússia; o Presidente dos Estados Unidos da América: John A. Kasson, Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário dos Estados Unidos da América junto do Imperador da Alemanha, Rei da Prússia; e Henry S. Sanford, antigo Ministro; o Presidente da República Francesa, Afonso, Barão de Courcel, Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da França junto a do Imperador da Alemanha, Rei da Prússia; a Rainha do Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda, Imperatriz das Índias – Sir Edward Baldwin Malet, seu Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto do Imperador da Alemanha, Rei da Prússia; o Rei da Itália – Edouard, Conde de Launay, seu Embaixador e Plenipotenciário junto do Imperador da Alemanha, Rei da Prússia; o Rei dos Países Baixos, Grão-Duque de Luxemburgo-Frederico Filipe, Jonkear Van der Haeven, seu Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário junto do Imperador da Alemanha, Rei da Prússia; o Rei de Portugal e de Algarves – Dom Serra Gomes, Marquês de Penafiel, Par do Reino, seu Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário junto do Imperador da Alemanha, Rei da Prússia; e António de Serpa Pimentel, Conselheiro de Estado e Par do Reino, o Imperador de todas as Rússias – Pierre, Conde Kapnfst, Conselheiro particular, seu Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário junto do Rei dos Países Baixos; o Rei da Suécia e da Noruega – Gillis, Barão Bildt, Tenente-General, seu Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário junto do Imperador da Alemanha, Rei da Prússia; o Imperador dos Otomanos – Mehmed Said Pacha, Vizir e Alto Dignitário, seu Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário junto do Imperador da Alemanha, Rei da Prússia.

“A relação entre os possuidores da maior porção de terra já tinha sido rubricada num acordo de 26 de Fevereiro de 1882 que previa que Portugal detinha a soberania da Bacia do Kongo…”

Durante três meses e quatorze dias (de 12 de Novembro de 1884 à 26 de Fevereiro de 1885) discutiram dois pontos principais: a liberdade de navegação nos rios Kongo e Níger e o direito de ocupação de terras africanas e no fim dos trabalhos produziram o Tratado de Berlim documento que lhes permitiu dividir a África em pedaços.

A Alemanha na qualidade de organizador, tinha a finalidade de estabelecer e impor critérios de igualdade nas disputas territoriais com a Inglaterra e a França tidos na época como únicas potências mundiais. Porém a iniciativa de realizar uma conferência internacional, partiu de Portugal que receiava perder seus direitos históricos porque via-se ameaçado pela Bélgica devido a questão do Kongo que estava na ordem do dia.

Os principais Pontos

No então, a Inglaterra e Portugal ficaram com a maior porção de terra africana e a Bélgica ficou com o território que é hoje o Zaire. A França e Alemanha repartiram a Costa Ocidental (Namíbia), conhecida como Sudoeste africano no tempo dos alemães e a Costa Oriental (Tazânia), naconhecida por Tanganika.
A relação entre os possuidores da maior porção de terra já tinha sido rubricada num acordo de 26 de Fevereiro de 1882 que previa que Portugal detinha a soberania da Bacia do Kongo mas garantindo a segurança económica da Inglaterra. Como era de esperar, esta acto desagradou a Associação Internacional Africana (AIA) e a França.

Em Berlim, os colonizadores europeus se comprometeram em efectuar a penetração no interior dos territórios africanos sob pena de perder o direito destes para outros estados. A Inglaterra tinha a intenção de ligar a África do Sul ao Egipto, mas não podia porque o território de Moçambique foi dado à Portugal e por tal motivo em 1891 a Inglaterra na qualidade de nação mais forte do mundo, deu um ultimato a Portugal para não ocupar as Rodésias Norte, Centro e Sul que compreendem hoje os territórios do Zimbabwe, Malawi e Zâmbia.

As Consequências

Hoje somos todos testemunhas das consequências das ambições coloniais. Para melhor manter os seus interesses dividiram ainda mais os africanos de acordo com as suas influências e assim temos africa negra e africa branca, africa cristã e africa árabe, africa anglófona, francófona, lusofona e árabe, por fim regionalizaram o contimente retirando poder a União Africana.

Para a justiça históriaca os colonizadores têm de pediar desculpas.

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