Por: Agostinho Sicato*
O filosofo angolano António Egídio de Sousa Santos, afirma na sua obra “Esboço da História Política de Angola”, que o pan-africanismo sob todas as suas formas, tem origem nos negros de descendência africana cuja base pode ter sido as diferenças da sociedade americana dividida entre brancos dominantes e escravos negros.
De facto, as raízes foram lançadas na primeira Conferência Pan-Africana que teve lugar entre os dias 23, 24 e 25 de Julho de 1900, em Westminster Town Hall, em Londres, porém, o pensamento de Henry Sylvester Williams (1867-1911), considerado pelos historiadores como o pai do Pan-africanismo, foi continuado pelos promotores da Conferência de Nova York entre negros e brancos resultante da agitação causada pelo massacre de negros em Agosto de 1908, em Springfield no estado de Illinois, terra natal de Abraham Lincoln.
“Pan-Africanismo é uma ideologia que propõe a união de todos os povos de África como forma de se potencializar, fazer ouvir a voz do continente na arena internacional ou dito de outro modo, é o movimento político, filosófico e social que promove a defesa dos diretos do povo africano e da unidade do continente no âmbito de um único estado soberano para todos os africanos tanto em africa como na diáspora”
Do encontro, nasceu a famosa National Association for the Advancement of Colored Peaple (NAACP), composta por brancos opositores da segregação racial, negros principalmente os que eram contrários ao programa de Booker Taliaferro Washington (1956-1915), liberais e progressistas.
O Jurista angolano Paulo Tchipilica, afirma que o que foi determinante para a progressão do sonho africano foi o movimento desencadeado no início do século XX, do Niagara e da Negro-Renascença, que conheceu o seu apogeu com o mestiço americano William Edward Burghardt du Bois (que pode ser considerado o pai da negritude), que com o filósofo jamaicano, Marcus Mosiah Garvey (1887-1940), lançaram as bases do Pan-africanismo.
Pan-Africanismo é uma ideologia que propõe a união de todos os povos de África como forma de se potencializar, fazer ouvir a voz do continente na arena internacional ou dito de outro modo, é o movimento político, filosófico e social que promove a defesa dos diretos do povo africano e da unidade do continente no âmbito de um único estado soberano para todos os africanos tanto em africa como na diáspora.
“Foi ainda aos negros, que em 1917 a França, quando estava prestes a sofrer uma derrota militar recorreu para lhe ajudar a travar o inimigo quando o Primeiro-Ministro Jorge Benjamin Clameneceau (1841-1929, nomeou o negro senegalês Blaise Diagne para o cargo de Comissário-geral dos Efectivos Coloniais franceses”
Este pensamento bastante difundido no início da luta pela independência de Africa, perdeu espaço no contente pois cada país recebeu a independência que seu opressor achou necessária, aquela que permite manter seus interesses. Esta também pode ser a razão bastante de o Pan-africanismo ser defendido mais fora do continente por descendentes africanos.
Falar-se de uma África unida torna-se assunto de segurança nacional nos corredores dos grandes palácios do Ocidente que encontrou em africa a única esperança de desfrutar a vida. Portanto houve de facto um grupo de intelectuais pan-africanistas que influenciou a criação da Organização da Unidade Africana (OUA) hoje União Africana (UA) cujo os estudos afigura-se urgente continuar.
William Du Bois, que regressou em Paris, França, depois da assinatura do Armistício no dia 18 de Novembro de 1918, apresentar um abaixo assinado aos vencedores da guerra estava convicto que imperioso pressiona-los a adotar uma Declaração dos Direitos do Homem destinada aos africanos tendo como base de sustentação, o facto dos negros terem sido úteis no conflito. Mesmo com um saldo de morte elevado, os negros mantiveram-se leais e ajudaram a ganhar a guerra por isso tinha chegado o memento de começar a ter seus direitos reconhecidos.
Foi ainda aos negros, que em 1917 a França, quando estava prestes a sofrer uma derrota militar recorreu para lhe ajudar a travar o inimigo quando o Primeiro-Ministro Jorge Benjamin Clameneceau (1841-1929, nomeou o negro senegalês Blaise Diagne para o cargo de Comissário-geral dos Efectivos Coloniais franceses.
Blaise Diagne apesar de ser combatido pelo Governador que o contestava por ser negro, mostrou que a capacidade não está na cor de pele e em apenas três meses recrutou 80 mil soldados africanos e ultrapassou de longe a cifra que lhe foi exigida.
“Será coincidência a mais?”
Du Bois, outra vez citado por António Santos, que também recorreu à Emmanuel Gesis, entende que “a catástrofe (primeira guerra mundial), nasceu da obsessão imperialista entre as potências europeias e que não se poderia assentar definitivamente a paz a não ser no dia em que se estiver posto fim as rivalidades. Esta foi uma oportunidade de passar o seu pensamento de que a autonomia vai pôr fim o domínio europeu sobre os povos de Africa e de outros continentes.
Profetizou de facto as independências, teve êxito mas sobre a real autonomia de África esse sonho está longe de se concretizar pois as antigas colonias e actuais neo-colónias, estudaram bem esse pensamento e decidiram dominar o negro de outra forma que passaria por criar em África uma nova elite que tem de necessariamente passar pelas suas escolas ideológicas com a missão de cumprir as ordem e prestar contas.
Percebe-se então a razão da dependência excessiva dos africanos em todos os domínios com maior destaque para a educação, saúde, defesa e segurança e muito recentemente na tecnologia. Com isso, essas potências pretendem evitar uma elite africana auto determinante e dona dos seus destinos, temendo a concorrência e por isso os líderes africanos são aliciados a exportar suas riquezas para o ocidente, lhes são impostas ideologias que não fazem partes da realidade de seus povos ajudando-lhes a destruir a sua cultura.
Como resultado, cometem erros políticos com a cumplicidade propositada dos senhores poderosos e no fim são congeladas suas contas bancárias, esses países ficam com os seus bens até que entram em desgraça e são solicitados para serem sacrificados no Tribunal Penal Internacional que se tornou num cemitério dos políticos africanos pois aquela instância, raramente julga um ex-líder ocidental. Será coincidência a mais?
Resultado de Bois Williams
O fim da Segunda Guerra Mundial, alterou o contexto político do mundo e de modo particular das colónias europeias em África. Nesta altura, as potências capitalistas designadamente a Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos da América, Itália, Japão, França e outras, haviam esgotado a sua capacidade material de subjugar outros povos e em substituição, adoptaram a política neocolonialista de apaziguamento para ganhar força a fim de iniciar novas aventuras esclavagistas hoje denominadas escravatura moderna.
O trabalho de Henry William e William du Bois começou a surtir efeito, com a realização do I Congresso Pan-africano em Paris, França, de 19 a 21 de Fevereiro de 1919, presidido por presidido por Blaise Diagne, no Hotel Boulevard des Capucines, assistido por du Bois e contou com a participação bastante concorrida de 57 delegados vindos de todo o mundo desde a África francesa (dominada pela França), África Britânica(dominada pela Grã-Bretanha),África Portuguesa (dominada por Portugal), Kongo Belga, Estados Unidos da América, Egipto, Haiti, Libéria, Antilhas francesas e britânicas, Abissínia, República Dominicana, da África espanhola (dominada pela Espanha) e da África do Sul. contou de igual modo com a participação de todos os deputados negros franceses.
“A conferência de Bandoung realizada em 1955 criou bases de solidariedade entre os povos africanos e asiáticos”
Em 1945, enquanto se criava a ONU em São Francisco, acontecia o 5º Congresso em Mauchester que proclamou o Pan-africanismo aplaudindo e enaltecendos os dirigentes africanos da nova vaga, com destaque entre outros, as figura de Kwame NK`rumah do Ghana, Jomo Kenyatta do Kenia tendo este movimento contagiado ainda a Áfrika francófona com Sékou Touré, na Guiné Conakry, Hounfouet Boigny da Costa de Marfim, e se estendeu até a África Oriental com Julius Nyerere do Tanganica ou Tazânia, Keneth Kaunda da Zambia, Abder Nacer da Argélia os quais conduziram os seus países às independências.
A conferência de Bandoung realizada em 1955 criou bases de solidariedade entre os povos africanos e asiáticos. Foi neste tão importante certame que os jovens intelectuais angolanos mostraram as suas capacidades e apresentaram o desejo de um dia ver o seu povo livre.
Importa referir que de acordo com as poucas fontes disponíveis sobre esta época, estes jovens vindos de várias escolas europeias, americanas e asiáticas, não queriam colocar os dois povos (angolano e português) em guerra, só partiram para a guerra depois de estarem esgotados todos os meios pacíficos para se resolver os antagonismos que os opunham do governo português.
Foi por isso que cansados de ver seu povo oprimido, pegaram nas armas para combater fisicamente e forçar os portugueses a deixar o país que haviam conquistado em 1482, a custa da ignorância do seu povo.