Todos os povos do mundo nascem de algum ponto. Assim como o ser humano, possuem três fases existenciais: nascem, crescem, se expandem em domínio ou se confinam em dominação e morrem.
É de todos sabidos que a cultura é o pilar fundamental para a existência, sobrevivência e perpetuidade de um povo, ou tal como postulou Marcus Garvey “um povo sem cultura é como uma árvore sem raízes.” Para todo povo bastaria a cultura se o mundo não fosse pluriverso, ou seja, se o mundo não fosse uma confluência de povos e consequentemente de culturas. Bastaria a cultura para a existência de um povo se no mundo apenas existisse um único povo.
No entanto, quando olhamos para o mundo vemos um mosaico cultural, vemos uma multitude de povos forjando e fazendo firmar a sua existência e reclamando por seu lugar no mundo. Quando olhamos para o mundo vemos uma competição, ainda que silenciosa, mas uma competição cultural sobre qual das culturas deve empeirar sobre as outras, qual deve ser a dominante. A selecção das espécies e a prevalência do mais forte, que aprendemos na escola, faz espécie no contexto da afirmação cultural também.
Este aspecto de luta por imposição cultural na confluência de culturas do mundo, constitui o elemento fundamental do que chamamos aqui neste artigo de Visão de Mundo ou ainda Cosmovisão conforme elucida um artigo do Wikipédia:
“Cosmovisão ou Visão de Mundo é um conjunto de crenças e opiniões fundamentais, isto é, a orientação cognitiva fundamental de um indivíduo, de uma colectividade ou, ainda, de toda a sociedade, num dado espaço-tempo, que têm o indivíduo ou o conjunto mais amplo, numa dada época e cultura, a respeito de tudo o que existe, sua gênese, sua natureza, suas propriedades e outros muitos aspectos, sob as ópticas tão amplas e variadas como a científica, a epistemológica, a filosófica, a religiosa (a semiológica e a ontológica), dentre várias. Uma visão de mundo pode incluir a filosofia natural; postulados fundamentais, existenciais e normativos; ou temas, valores, emoções e ética1.”
Resumidamente podemos dizer que Visão de Mundo é:
a) o conjunto de valores, crenças, opiniões e conceitos de toda uma sociedade ou povo;
b) é a principal ferramenta que uma determinada cultura e consequentemente povo, tem para se impor e fazer particularizar a sua existência diante de outras culturas e povos no mundo;
c) uma vez que ela incide sobre todos os aspectos existenciais e epistêmicos sob todas as ópticas e inclui a filosofia natural; postulados fundamentais, existenciais e normativos; valores, emoções e ética, é ela quem define um determinado povo.
É a Visão de Mundo que faz a distinção entre vários povos, quem domina e quem é o dominado. Embora cada povo possua ou deva possuir uma visão de mundo, há sempre, em cada época ou espaço-tempo na história dos homens, uma Visão de Mundo Dominante. Nesta época em que vivemos, século 21, a Visão de Mundo Dominante é a Euro-caucasiana-ocidental.
Diferentemente da colonização e a escravatura, a visão de mundo na maior parte das vezes não se impõe pela força, pois povo algum aceita abandonar quem é para clara e voluntariamete seguir ou adoptar uma identidade estranha, então, ela é injectada sorrateiramente sob a forma de códigos, postulados, normativos existenciais, valores, emoções, crenças, filosofias, etc. que parecem inofensivos, académicos, científicos e/ou humanos.
Para finalizar, segundo Leo Apostel, membro integrante da visão de mundo dominante, citado no artigo do Wikipédia diz que “uma visão de mundo é necessariamente uma ontologia, ou um modelo descritivo do mundo. Ela deve compreender esses seis elementos:
1. Uma explicação do mundo;
2. Uma futurologia como tentativa de responder à questão “para onde estamos indo?”;
3. Princípios, valores e intenções de respostas para questões éticas do tipo: “O que devemos fazer?”;
4. Uma praxeologia, metodologia, ou teoria da ação, que reflita conscientemente: “Como devemos atingir os nossos objetivos?”;
5. Uma epistemologia, ou teoria do conhecimento, que considere com seriedade questões como “O que é verdadeiro e falso?”;
6. Uma Etiologia, pois uma visão de mundo construída deve conter uma concepção de seus próprios blocos de construção (building blocks), suas origens e construção.”
Como nós afrikanos respondemos a isso? E se particularizarmos mais ainda: como os ambundu, nyaneka, tcokwe, akongo, ovimbundu, oukwanyama, herero, vatwa ou khoisan respondem a
isso?
Mbanza Hanza, O Grande Elefante, FPR!
11 de Janeiro de 2022
Artigo originalmente escrito a 21 de Julho de 2018.