Nas ferias grandes, todos os netos da avó Filipa, corriam para a casa da avó, onde longe da disciplina dos pais, mergulhávamos em maravilhosas aventuras, de trepar nas arvores, apanhar gafanhotos, apanhar fazendas, culambar , jogar a escondida, semalha, 35 vitoria e outras brincadeiras da época.
Eram 15 horas, já tínhamos almoçado um bom arroz com feijão e peixe frito.
Estávamos todos no quintal, quando de repente começamos a cantar uma musica do Man Borró, numa sincronia que parecia termos ensaiado anteriormente.
-A Belinha é Xuxu, usa tudo de ouro, A Belinha é Xuxu… Man Borró das nonós…
Cantávamos e dançávamos alegremente, sorrindo em cada pausa para a próxima estrofe, Mingota surgiu com um olhar sério, sinalizando com a cabeça uma retirada de emergência… Fomos para o canto e ela mostrou-me um saco cheio de guloseimas e sussurrou-me no ouvido:
– *Vamos mbora brincá di casa…
Prontamente concordei e corremos em direção ao antigo curral desativado, e começamos a fazer a marcação das “ casas”.
Mingota como era a dona dos pitéus, exigiu que tinha de ser a mãe, e ela mesmo escolheu Joãozinho como pai… O pai e a mãe dormiam no “quarto” e nós os filhos na “sala”… De minuto em minuto a mamã nos dava um pedaço de bolacha ou rebuçado.
Depois nos mandaram ir acarretar água… Quando voltamos, encontramos a mamã a chorar com o vestido ensanguentado e o papá tinha fugido.
A mamã, soluçava e tremia, pedido para não chamarem a sua mãe, Mas o seu irmão Nando já corrido para avisar que Mingota tinha se picado no prego e estava a sangrar tanto que não conseguia andar.
Meses mais tarde, depois da mamã começar a engordar bué e ter a barriga grande com anemia… Recebemos um irmão e não era de brincadeira. Joãozinho e Mingota apesar de primos, conseguiram ser Papá e mamã de verdade.”
Catarina Fortunato, escritora.