• 9 de Abril, 2025

Política, cambalhotas e futebol

 Política, cambalhotas e futebol

Manuel Rui

Escritor

Chegou a reunião da CPLP sob a batuta de Angola. Claro que ninguém vai ralhar com ninguém. Tão pouco com Bolsonaro. A pandemia do álcool gel e das máscaras fez com que muitos governantes por esse mundo fora ficassem mareados, às cambalhotas, misturando assuntos já misturados pela mídia.

15/07/2021  ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO 05H00

Na Metrulha, levaram um ministro da Defesa a tribunal por mor do desaparecimento de armas sobradas da guerra colonial, ferro velho guardado num painel e dele retirado e reposto num esconde esconder entre polícias e tudo acabou em nada. Ainda o presidente da Câmara de Lisboa passou à Embaixada da Rússia dados dos organizadores de uma manifestação contra Putin. E logo saíram as vozes quase a apontar o autarca como feito com o “inimigo”. Eu acho bom avisar as embaixadas para, em algumas situações, se protegerem ou abandonarem, por algum tempo, o edifício. Agora, até um atrasado mental perceber que os líderes de uma manifestação costumam botar discurso, aparecem na televisão e caramba!
A KGB sabia de certeza sobre a manifestação e quem seriam os líderes delas é que poderia fornecer dados ao autarca que se meteu noutra alhada quando aceitou com o Primeiro-Ministro aceitar apadrinhar a retomada de posse do imperador de futebol de além-mar. Outra birutice é a perseguição a um ministro que acabou num acidente de viação com a morte de um trabalhador de manutenção de via. Quem conduzia era o motorista do ministro e este até podia ir a dormir. A comunicação social parecer inspirada nos jesuítas tal as crucificações constantes. Os comentadores de futebol digladiam-se de forma doentia quase incitando os adeptos à violência.
Desde 2014 que o imperador do futebol andava com a bófia à ilharga, desde processos como um em que o clube se apoderara de dados do Ministério da Justiça. Tudo lhe foi passando à tangente. E, de repente, como diria Marcelo Caetano, “caiu o Carmo e a Trindade. O Ministério Público mandou em “galera” para os curros da polícia o presidente do maior clube português. O aparato policial para conduzir o imperador aos aposentos foi semelhante ao de uma rainha como a de Inglaterra que escreveu uma bela carta para a sua selecção na copa europa mas os “bifes” perderam e sobre isso já lá vamos. As televisões fizeram horas seguidas a repetir o cortejo como fazem quando acompanham um autocarro de clube grande. Depois o cortejo das idas a tribunal. O procurador pedia gaiola preventiva para o imperador, o filho e mais dois presumíveis capangas, com destaque para um chamado o “rei dos frangos.” O povo português é que vai pagar isto tudo, a despesa das passeatas não será pequena e a massa da bazuca ainda não veio e o muata do banco está metido na alhada e está suspenso e depois de tanto aparato o imperador que se auto-suspendeu da presidência do clube vai para casa porque a própria acusação decidiu substituir prisão preventiva por caução de 3 milhões de euros…um dia destes o imperador é absolvido mas antes uma celebridade do clube que o imperador colocara como delfim, proclamou-se presidente…discute-se se há dois ou um presidente.
Tomem tenência. O imperador foi preso por castigo. O clube tem adeptos transversais a todas as classes sociais, incluindo procuradores, juízes, políticos como Medina e Costa, socialistas ou Jerónimo comunista. Os adeptos do clube podem seguir o político que é do seu clube. O imperador depois do anúncio de “vamos arrasar” do treinador a arrotar a feijão preto carioca. Se tivesse ganho o campeonato seria recebido e festejado na varanda dos paços de Medina. Se ganhasse a taça dos campeões europeus seria condecorado pelo Presidente da República. Perdeu tudo, encenou-se um grande alcaponismo e a montanha abortou uma ratazana.
Estou a imaginar os pintainhos nos viveiros quando souberam que o rei do frangos estava na kionga a festa que terão feito no piu-piu-piu.Os políticos precisam dos grandes clubes que precisam dos políticos por causa dos bancos para a promiscuidade que é a indústria mais suja do mundo onde circulam milhões com jogadores, agentes, intermediários e dirigentes manipuladores. E é um mundo com as suas próprias leis. Se alguém na rua der um pontapé na cabeça de outra pessoa pode ser tentativa de homicídio mas se for dentro do relvado de futebol…é um cartão vermelho, nome desta operação ou novela.
Ultimamente, as equipas europeias incluem uma grande percentagem de africanos ou descendentes de africanos. É óbvio que um emigrante pedir a nacionalidade é um nunca mais…mas para um bom jogador de futebol é num instante. Um negro, grande jogador passa a branco escuro, pedem-lhe autógrafos, as garinas molham-se todas por ele, polícias batem-lhe continência, deixa de ser tratado por boy, “mostra-me os documentos”, “Onde trabalhas”, “desaparece.”O jovem jogador inglês falhou um penalty. Deixou de ser branco escuro passou a negro e caiu a avalanche do racismo com o ressonante “MACACO!”
A ver se a coisa melhora para senhor macaco…É a nova forma de escravidão. O negro não pode falhar. O guarda-redes branco (dos dentes) pode engolir um frango, alguns adeptos até aplaudem para o consular. Um negro não pode falhar. Por isso é que a malta lá na Europa não joga à baliza. O que é preciso é não falhar e ganhar milhões até ao fim da carreira, nunca chegará a treinador nem dirigente do clube. Temos de repensar formas de combater mais esta forma de escravidão dourada.

 

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