• 10 de Abril, 2025

Rei dos pucos-Catarina Fortunato

 Rei dos pucos-Catarina Fortunato

 

Quando chegou a Luanda, Matondo foi recebido com a alegria que caracteriza a receção de um parente nunca visto, mas sair do mato para a cidade custou-lhe uma vida de chacota, alguns até afirmavam que foi possível tirar-lhe do mato, mas seria impossível tirar o mato dele…
Luanda já não lhe agradava, passava o dia a fazer trabalhos de “mulher” lavar pratos, acarretar água e controlar os primos e outros trabalhos pesados que denunciavam claramente exploração infantil, nunca ia a caça de pucos nem de pássaros, não tomava banho no rio e nem pescava.
Mas Matondo, precisava fazer algum dinheiro, pois apesar de tanto esforço as melhores roupas e calçados eram sempre para os primos, filhos do tio que o trouxe a Luanda.
Embora não tendo vícios, para ele Luanda era muito exigente. Não podia andar descalço, nem comer com as mãos, muito menos usar roupas gastas. Imagina usar roupas gastas e se encontrar com alguém da mesma aldeia… Iria te afamar que acabou mal. Cresceu e continuou como um masseca, e nem a escola podia ir, pois tinha de controlar as “ crianças” e fazer os trabalhos de casa.
O que fazer numa terra onde nem emprego, nem caça, nem lavra?
Fugiu de casa e com algum dinheiro da macrueira que havia vendido, apanhou dois ou três táxis e fixou residência provisoria nos Ramiros, a fronteira entre a cidade e o meio rural.
Tentou fazer Macau, mas no dia em que ficou no ponto, provou e deu a provar e quando deu por conta… A moringa estava vazia. Nem o valor do investimento nem o valor dos lucros.
Entre lamentos e pragas, enquanto chorava, notou que Luanda tinha muito lixo, e em consequência disso muitos ratos.
Foi então que a lâmpada da genialidade se acedeu, meditou e cogitou um plano infalível.
Buscou por palmeiras e simulou domingo dos ramos, era Abril mês da pascoa, fez espetos e em seguida com latas de óleo de palma e borrachas de camaras de pneus, fez armadilhas para ratos.
Caçava os ratos nas esquinas de Luanda, cada um maior que o outro, com os espetos preparados assava( fumava) os mabengos e a beira da estrada passou a vender os ratos da mata. Pois havia descoberto que depois de fumados com moaba ou com gindungo, não havia diferença.
Afinal Luanda era mesmo era mesmo terra de dinheiro fácil. Terra dos vijùs, onde maiar é crime. Jikulo ó messo.
E ficou conhecido como Matondo o rei dos Pucos.

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