Por: Catarina Fortunato – Escritora e cronista
Nos nossos tempos de meninos, vivíamos, literalmente apaixonados aos aviões que iam e vinham para a capital, passavam tão raso pelo nosso musseque que, as vezes, dava até vontade de se “maguelar”…
Parados com olhos para o alto, apontávamos excitados para aquela ave gigantesca, desejando que o avião caísse no nosso bairro, inocentes nem fazíamos ideia do estrago que causaria, queríamos apenas que o avião caísse para, então, podermos entrar, “saquea-lo” e tirar as enormes caixas de maças e os “buéde” dólares ali transportados. De maneira assertiva ou empírica, identificámos cada um, que passasse…
“Quem já foi criança sabia que por mais pequenos que parecessem os aviões extensamente grandes no seu interior”
– Esse ai é da Tap, aquele é americano, olha… Esse que deixa fumo tipo tá escrever é sul-africano…
Todos os rapazes sonhavam ser pilotos, para tocar as nuvens com a ponta dos dedos, uns até diziam que iriam estacionar no ar e descer para descansar nas nuvens, tirar uma soneca ou até mesmo apanhar pássaros. E as meninas queriam ser aeromoças, para acompanhar os rapazes, falar várias línguas e conhecer o mundo. Mas na verdade, a ideia era mesmo ter acesso as maças, amêndoas, e bolos de arroz, que ouvimos dizer que eram distribuídos aos passageiros, porque meu tempo de menina, comer uma maçã era um privilégio, um luxo, infelizmente sei que para alguns ainda é mais, naquele tempo quem comesse uma maçã inteira sozinha, ficava tão famoso no bairro que podia ser comparado a um campeão.
Desejos inocentes da criança
Na ponta do beco, bem ali ao lado da casa assombrada, hoje casa do tio Gomes, aquela casa desabitada que inspirava histórias de arrepiar sobre os bruxos e fantasmas (todos invisíveis) que presumivelmente lá habitavam, causado um misto de curiosidade e medo, o que para as crianças era a definição da aventura, sim naquela esquina, no quintal do avô Fortunato, tinha um avião pendurado na ponta do posto de ferro, onde passavam as puxadas de energia.
Com cerca de 50 Centímetros de comprimentos, uma réplica quase verdadeira que chegávamos a acreditar que era um avião de verdade que tinha avariado ali, todos os dias fazíamos planos de escalar o muro para explora-lo, mas erámos desmotivados pelos cabos de energia… (Quem já foi criança sabia que por mais pequenos que parecessem os aviões extensamente grandes no seu interior), um absurdo que nos fazia acreditar que dentro daquele avião cabíamos todos e que estava cheio de maçãs e de dólares…
“Avião cai no Cazenga”
O tempo foi passando, e não sei quem desejou tão forte a queda de um avião, que se ouviu que havia caído um no Cazenga, e que em vez de dólares e maçãs, trouxe desolação. Trouxe tristezas, matou e traumatizou gente, que afinal nem por brincadeira, devíamos desejar a queda do mesmo. Mas sempre que passa um avião vejo crianças olhando admiradas para o céu, como se desejassem ser arrebatadas para dentro das nuvens