Assinala-se hoje um ano da morte de Inocêncio de Matos, jovem angolano morto pela polícia quando participava numa manifestação por melhores condições de vida. Até agora nada mudou. Nem foi feita justiça, queixa-se o pai.
A Avenida Brasil é uma das ruas mais movimentadas de Luanda. O nome resulta de uma telenovela brasileira apresentada pela televisão angolana há décadas. Foi precisamente aqui que “tombou” Inocêncio de Matos, jovem ativista angolano que participava numa manifestação contra o elevado custo de vida. Os protestos ocorreram a 11 de novembro de 2020.
Antes da sua morte, a manifestação foi reprimida pela polícia, com tiros à mistura. Mas os manifestantes pretendendiam chegar ao 1º de Maio, local onde foi proclamada a independência angolana, a 11 de novembro de 1975. O objetivo era fazer passar a mensagem.
Kim de Andrade, um dos ativistas participantes, convidou a DW África a visitar o local onde foi alvejado o jovem. “O Inocêncio e os demais estavam de joelhos clamando para que as autoridades policias parassem com a brutalidade. A palavra de ordem foi: violência não”, recorda.
“Enquanto os manifestantes gritavam violência não, um dos polícias sacou a sua arma e disparou mortalmente contra o Inocêncio.”
Foi a primeira e única vez que Inocêncio de Matos participou numa manifestação. Saiu para lutar contra as péssimas condições de vida e não mais voltou.
Pai continua à espera de justiça
Um ano depois da sua morte, Alfredo de Matos Inocêncio, pai do jovem, continua à espera que a justiça seja feita. “Até agora nada de justiça foi efetuada após a passagem de um ano do passamento fisíco de Inocêncio”, lamenta.
O advogado e a justiça não comentam o andamento do processo.
Para se exigir responsabilidade criminal e civil, está agendada uma manifestação para esta quinta-feira (11.11), em Luanda. “Estaremos a homenagear Inocêncio Alberto de Matos, jovem que morreu aos 24 anos”, diz Kim de Andrade.
O mês de novembro servirá também para homenagear ativistas como José Patrocínio “Zé Tó”, Casimiro “Carbono” e Eunice da Silva Kénia Ymortal, ativista e rapper angolana que morreu esta terça-feira (09.11), em Luanda, vítima de doença.
Condições de vida não melhoraram
Mas o que mudou com a morte de Inocêncio de Matos, o jovem que clamava por melhores condições de vida? “Nada”, responde Kim de Andrade. Há, inclusive pessoas a morrer de fome em Angola.
“A população em geral tem tomado de assalto os contentores de lixo, isto é um índice bastante esclarecedor, por si só, de como o custo de vida está”, exemplifica o ativista.
A DW África também se deslocou ao S. Pedro da Barra – zona periférica de Luanda onde Inocêncio morava. Vimos crianças, jovens e adultos num chafariz a lutar por um balde de água potável. A escassos metros da casa do malogrado ficar a adormecida refinaria de Luanda, capital de Angola, país rico em petróleo.
DW