O país enfrenta neste momento três greves na função pública desde que começou o ano 2022, período previsto para as eleições gerais. São Médicos, funcionários judiciais e professores universitários que paralisaram os trabalhos nos seus sectores devido à “incapacidade” de diálogo do Governo com os sindicatos, bem com o incumprimento das promessas.
Estes profissionais pedem salários mais altos e melhores condições de trabalho. Mais greves poderão ser decretadas nos próximos, avisam os sindicalistas.
Francisco Jacinto, o líder da Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola (CGSILA), refere que as greves resultam da insensibilidade do Governo em relação aos problemas da classe trabalhista.
“Temos dinheiro para levar delegações de 40 a 100 pessoas para o exterior do país, para gastarem nos hotéis, e não há resultados, mas não há dinheiro para pagar aquele que está a formar o homem, que cria o futuro do país”, lamenta.
Segundo o sindicalista, as federações sindicais já trabalham para uma paralisação geral no país. “Temos alertado que essas são greves setoriais que vão culminar com as federações, que brevemente tomarão medidas muito fortes sobre esta situação”, avançou o secretário-geral da CGSILA.
Na segunda-feira (21.03), Angola acordou com duas paralisações. Médicos e trabalhadores estão em greve.
O Governo não cumpriu com a totalidade do acordo que assinou com a classe em dezembro de 2021. O único ponto do caderno reivindicativo atendido até aqui foi o reenquadramento do presidente do Sindicato Nacional dos Médicos de Angola (SINMEA), Adriano Manuel. Os pontos sobre o reajuste salarial, concurso público de admissão de novos técnicos e maior financiamento das unidades de saúde não foram cumpridos pelo Governo de João Lourenço, três meses depois das negociações.
“Prometeram que sairíamos da carreira especial para o regime especial, mas isso também não foi resolvido. Em suma, ficou muita coisa por resolver”, diz Pedro Filho, membro do SINMEA, citado pela DW África.
“Estamos dispostos a trabalhar e a fazer a nossa parte. Por isso, [pedimos] que os órgãos competentes façam também o seu trabalho. Essa é a nossa vontade. Quanto mais cedo se resolver isso, mais depressa voltaremos ao trabalho”, apelou o pediatra angolano, que exige mais “respeito” e “dignidade” para a profissão.
Ainda em Luanda, numa das entradas da Cidade Alta, perímetro da Presidência da República, ouvem-se desde ontem, palavras de ordem – “Não há justiça na injustiça!”.
Desde 2017 que os trabalhadores judiciais do Tribunal Supremo clamam pela equiparação salarial com os demais tribunais superiores do país. A greve decretada no sábado (19.03) só será levantada no próximo dia 1 de abril. No entanto, caso não haja solução, já se fala numa nova paralisação entre os dias 18 e 29 de abril.
“É injusto que um funcionário do Tribunal Constitucional, um funcionário do Tribunal Supremo Militar e um funcionário do Tribunal de Contas ganhem três vezes mais do que um funcionário do Tribunal Supremo. É injusto, quando, nos termos da Constituição, é um tribunal superior”, afirma Domingos Feca, coordenador da Comissão de Instalação do Sindicato dos Funcionários Judiciais do Tribunal Supremo.
Domingos Feca acusa as autoridades angolanas de falta de vontade para resolver o problema. “A dada altura, não somos uma prioridade. Não se justifica, mas acabamos por não ser prioridade. Mas vemos as outras instituições serem priorizadas. Infelizmente, com tristeza, temos que voltar à greve”, reitera.
Domingos Feca, da Comissão de Instalação do Sindicato dos Funcionários Judiciais do Tribunal Supremo
Falta de financiamento só afecta alguns sectores.